
Uma realidade cada vez mais comum desde seu lançamento pelo Banco Central, em novembro de 2020, o pix, é uma nova maneira de fazer transferências de valores e pagamentos em dinheiro, instantaneamente, e que funciona todos os dias, sem exceção. O dispositivo é usado para tudo, inclusive por pedintes pelas ruas de Passos.
Foi o que surpreendeu uma dona de casa no final de semana passada, ao ser abordada por uma pedinte na porta de um estabelecimento comercial da cidade. Ao informar a pedinte que queria ajudar, mas não tinha trocado, recebeu o surpreendente argumento: “Eu aceito pix”.
A Folha conseguiu localizar a pedinte no final de semana. Trata-se de Daniela Cristina, de 34 anos, mãe de quatro filhos, que além de pedir qualquer quantia abordando pessoas nas vias públicas, usa o pix com forma de recebimento.
Moradora no bairro Coimbras, ela afirma que fez amizade com uma mulher que deu a ideia de receber auxílio pelo pix. A amiga lhe ajudou a abrir uma conta-corrente em um banco virtual, e cadastrou o número do aparelho (35) 99703-9592 com sendo o do pix. “Não uso o cartão bancário para mais nada, além de sacar o dinheiro que, por enquanto, rende em torno de R$ 5 por dia. Com o passar do tempo espero superar bem mais essa quantia”, disse.
A pedinte, que pediu para não ser fotografada mas não se opôs a contar os detalhes de sua atividade, não entrou em detalhe de como consegue sacar o dinheiro do pix. De acordo com as regras bancárias, primeiro o usuário deverá se dirigir ao caixa de um estabelecimento comercial credenciado e solicitar a operação do saque. Em seguida, ele deverá fazer a transferência para a loja do valor em reais que deseja sacar.
O modo mais comum de Daniela conseguir doações ao abordar as pessoas nas vias públicas é pedindo dinheiro em espécie para facilitar na compra da alimentação.
“Quando alguém me diz que não tem moedas ou notas de baixo valor, é informado o número do pix, e aguardo o final do dia para retirar a grana da minha conta bancária”, revelou.
A mulher costuma ficar em frente aos estabelecimentos comerciais de maior movimento, e procura sempre alguém que esteja saindo ou entrando em seus veículos.
Beneficiária
Mesmo comprovando ser carente, não trabalha porque há três anos anda nas ruas em busca de dinheiro para o sustento familiar, segundo ela, pelo último motivo, as pessoas não a aceitam como empregada. Sem mais explicações, a pedinte confessou que não tem marido, e que cada filho está sob os cuidados de diferentes familiares.
“Antes de ir para a casa onde moro sozinha, vejo eles todos os dias ao anoitecer. Meu sonho é morar no que for meu, porém o dinheiro gasto quase tudo em alimentos e ainda pago R$ 300 por mês de aluguel. Como sobra pouco dinheiro para essa despesa, estou sempre sendo despejada e mudando de local”, lamentou.
De acordo com Daniela, a prefeitura colaborou para que ela recebesse hoje, R$ 600 de contribuição do INSS, mas não soube explicar qual programa do governo federal está cadastrado. “Reparto mês a mês, todo o dinheiro a cada um dos parentes que cuidam dos meus filhos entre 5 e 16 anos de idade. Quando consigo cestas básicas, faço a mesma coisa. Tenho problemas de saúde, por isso parei de beber cerveja, e tomo remédio para dormir”, afirmou.
Via Clic Folha.