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Dia Internacional do Orgulho Gay: barrense fala sobre o tema

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Hoje, dia 28 de junho, é comemorado o Dia Internacional do Orgulho Gay/LGBTQIA+ — Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Queers, Intersexo, Asexual e demais orientações sexuais e identidades de gênero —.

Em tempos de pandemia de coronavírus (COVID-19), em que todos precisaram se adaptar às exigências sanitárias, a festa do Orgulho LGBT foi transformada em comemoração online. 

O Movimento LGBTQIA+ é um movimento que busca defender a aceitação, o respeito e os direitos iguais das pessoas LGBTs. O grupo é um segmento na sociedade que sempre enfrenta ondas de preconceito e de ódio, diante disso, o movimento LGBT age em busca da igualdade social, seja por meio da conscientização das pessoas contra bifobia, homofobia, lesbofobia e transfobia, seja pelo aumento da representatividade das pessoas LGBTs nos mais diversos setores da sociedade. 

E não é à toa que esta luta deve manter-se, mais que nunca, ativa. Apenas em 2020, 237 mortes violentas de pessoas LGBTs foram registradas no Brasil. Em 2019, 329 casos. De acordo com o levantamento, apesar de ser um problema que afeta toda a comunidade,  travestis e transgêneros ainda são os maiores alvos de ataques em espaços públicos. 

Além da luta constante por aceitação e contra a violência, a comunidade LGBT sofre ainda com a busca por emprego e melhores oportunidades na vida. Se enfrentar o mercado de trabalho já é difícil para os heterossexuais, para a comunidade LGBT o desafio é ainda maior.

A inserção social no mercado de trabalho é marcada por obstáculos de diferentes naturezas, desde a desqualificação, a simples negativa de oferta de oportunidades ou pelo fato da orientação sexual.

Para falar sobre o tema, convidamos o barrense Richard Reis para uma entrevista.

Richard, hoje é comemorado o Dia Internacional do Orgulho Gay. Dá algum orgulho em ser gay no Brasil?

Olha sinceramente nem um pouco! Apesar de nos últimos anos a comunidade LGBTQIA+ ter tido algumas conquistas, como por exemplo a criminalização da lgbtfobia em 13 de junho de 2019, ainda é quase impossível se sentir confortável. Como ter orgulho de ser gay em um país que é um dos que mais matam pessoas LGBTQIA+ no mundo? Como sentir orgulho com uma sociedade que dissemina ódio 24h por dia na internet contra a comunidade e empresas que abraçam a causa? Ser gay no Brasil é resistir 1440 minutos por dia!

Como foi assumir a sua sexualidade para a sua família?

Foi em uma noite de sábado de 2017, eu tinha 21 anos e morava sozinho em Batatais por conta da minha faculdade. Estava bebendo sozinho em casa, conversando com minha mãe pelo whatsapp quando fui direcionando a conversa sobre quem eu era. Foi virtualmente que contei pra ela que eu era gay e que não queria ser uma decepção pra ela nem pra minha família. Foi preciso eu sair de casa para ter coragem e força para me assumir. Lembro que no fim de semana depois dessa conversa, vim pra casa e minha mãe me deu um abraço tão bom que ela não precisou dizer nada, mas ao mesmo tempo disse tudo. O restante da família fui contando aos poucos e sempre recebi muito amor e apoio.

Você acha que as escolas estão preparadas para lidar com alunos homossexuais?

Como professor formado, posso dizer com toda convicção que durante a graduação recebemos muito conhecimento sobre o diverso público que podemos encontrar nas escolas e quais deverão ser nossos cuidados e atenção. A escola é (ou deveria ser) um ambiente inclusivo, onde todos aprendem a viver em sociedade e com as diferenças. Porém lamentavelmente, hoje em dia a realidade faz parecer que uma parcela dos profissionais da educação fingem estar cegos para essa situação e deixam por conta da família fazer o que quiser com o aluno. Faço aqui um apelo: Professores, eduquem seus alunos como se fossem seus filhos! Ensine-os a viver em sociedade, com pessoas diferentes umas das outras! Nós temos um papel determinante no futuro de cada criança que passa por nossas salas!

Você acha que casais gays são boicotados ou ignorados pelas campanhas publicitárias ou outros trabalhos?

O que eu vejo é que muitas empresas usam do casais LGBTQIA+ como marketing para se promoverem na internet. Mas precisamos analisar a realidade, o dia a dia da empresa. Será que essas empresas que fazem uso da imagem de casais LGBTQIA+, contratam esse público para trabalhar, ou ainda além, será que esse público ocupa cargos de liderança na equipe? É uma questão que deixo para reflexão, vemos a presença LGBTQIA+ em anúncios publicitários com maior frequência no mês de junho, mas e nos outros meses, não somos mais úteis?

Você acha que é possível mudar a orientação sexual de uma pessoa e sua identidade de gênero?

Definitivamente não! Isso é história pra boi dormir! Cada pessoa já nasce com suas características enraizadas na sua personalidade e no decorrer da vida elas vão surgindo e se desenvolvendo. Esse papo que vemos por aí de que “se meu filho ficar vendo isso ele vai virar gay”, “se minha filha ouvir isso ela vai se revoltar” é tudo medo que os pais têm de não saber conversar com os filhos sobre esse assunto! A sociedade acha que falar sobre LGBTQIA+ é sexualizar as crianças, mas não! Falar sobre isso é ensinar sobre o respeito e quem dera se todos já crescessem respeitando a vida do outro!

Você já sofreu homofobia?

Já sim, na época do colégio. Eu costumava andar mais com as meninas do que com os meninos, primeiro porque não gostava de jogar futebol e segundo porque não conseguia me enturmar com os assuntos que conversavam. Com isso, comecei a ser chamado de bixinha pelos meninos, sendo alvo de muitas brincadeirinhas e situações constrangedoras. Na época eu sabia que era diferente mas guardava pra mim mesmo esse sentimento, com medo de julgamentos e mais situações como aquelas. Graças a Deus, agora já adulto eu não passei por nenhuma situação de discriminação.

Mesmo com avanços como o casamento gay, o que falta ainda para melhorar?

Falta muito respeito e empatia por parte da sociedade em aceitar a orientação sexual do próximo e entender que isso não muda quem a pessoa é! O que muda se você for a um médico e ele for gay? Ele vai te atender da mesma forma que um médio heterossexual, te receitar remédios conforme a necessidade e te fazer indicações como qualquer outro médico. O que muda se a atendente da loja for lésbica? Ela vai prestar seu atendimento como qualquer outra profissional da área e a sexualidade dela não influencia em nada.

Qual a importância do dia 28 de junho?

O dia 28 de junho é mais um dia para reforçar que LGBTfobia não é opinião, é crime! O dia do Orgulho LGBTQIA+ é mais um dia para reforçarmos nossa luta contra o preconceito e nos reafirmar como indivíduos dessa sociedade. É um dia também de se orgulhar por tudo que a comunidade LGBTQIA+ já passou, por todas as pessoas que já lutaram por nós, por todas as conquistas que já tivemos com o passar dos anos. É um dia de festa, mas também mais um dia de resistência e luta!

Pra quem não sabe esse dia é celebrado por conta da Revolta de Stonewall em 1969, que foi um marco na luta da comunidade gay por seus direitos. Aconteceu em Nova York e o contexto era a constante repressão militar ao bar Stonewall, que era o único bar gay de NY. Vale lembrar que qualquer prática homossexual era considerada crime nos EUA. Quem puder ler sobre esse fato, vai conseguir entender a importância desse dia para a comunidade LGBTQIA+!

Ser gay, para muitos, é considerado uma escolha, para outros não. O que você pensa sobre isso? É uma escolha? Se não, como podemos saber disso?

Ser gay não é uma questão de escolha! Assim como qualquer uma das orientações sexuais, nunca é uma questão de escolha! A gente nasce assim, como disse acima, nossas características já estão enraizadas na nossa personalidade e com o passar do tempo elas vão aflorando. Algumas crianças já exteriorizam suas características logo cedo e na grande maioria são repreendidas logo cedo. Alguns jovens tentam não exteriorizar por medo, como aconteceu comigo. Outros, porém, já têm mais desenvoltura para expressar sua sexualidade para a sociedade. A questão é, não é uma escolha! Ninguém pára do nada e fala “a partir de agora eu sou gay!”, não! Quem é gay, lésbica, trans já nasce assim!

É o caso da Gloria Groove! Quando ela era criança, era conhecida como Daniel e se apresentou inúmeras vezes no programa do Raul Gil. Eu lembro de ver ele se apresentando e era nítido que ele era diferente, dava pra ver no jeitinho dele! Quando ele estourou como Gloria Groove e eu fiquei sabendo que era o Daniel, eu entendi tudo.

Cada pessoa tem um tempo diferente para se entender e se assumir e tá tudo bem! As pessoas precisam viver seus processos sem atropelar o tempo. Mais uma vez eu reforço: não é escolha!

O Burger King lançou na última semana uma campanha que apoia o Orgulho LGBTI+. No vídeo “Nossa, como eu vou explicar a sigla LGBTQIA+ para as crianças?”, realizado em co-criação com especialistas em psicologia e diversidade, a marca propõe um convite à reflexão sobre a inclusão da comunidade LGBTI+ na sociedade.

O vídeo, contudo, não tem sido bem recebido por todos os públicos. No Twitter, um dos assuntos mais comentados é “BurgerKingLixo”. Diante da repercussão a rede de restaurantes se pronunciou:

‘’No BK, acreditamos no respeito como princípio básico de todas as relações humanas e não toleramos o preconceito. Aqui, todas as pessoas são bem-vindas. O desenvolvimento da campanha “Como Explicar”, voltada e pensada especificamente para o público adulto, contou com a curadoria de especialistas em psicologia para garantir o uso de uma linguagem adequada, bem como uma consultoria de diversidade e das ONGS Mães pela Diversidade e APOLGBT. O Burger King reforça seu compromisso de contribuir na construção de uma sociedade cada vez mais plural e com o respeito como princípio básico’’.

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