
A onda de terremotos que atinge Sete Lagoas, na região Central de Minas, desde abril deste ano e que se intensificou no último domingo (29) intriga moradores e levou à criação de uma força-tarefa para investigar a causa da sequência atípica de tremores, o que vai ser feito por um geofísico da Universidade de São Paulo (USP), integrantes da prefeitura e membros da Defesa Civil Municipal.
Estações sismográficas registraram seis abalos entre 30 de abril e 31 de maio, mas vários moradores afirmam que houve muito mais.
Uma das hipóteses que circulam nas rodas de conversa da cidade e que está na mira do grupo de trabalho é que detonações em uma pedreira da empresa Cimento Nacional, no município, possa estar causando instabilidade no terreno e acelerando o processo de acomodação do subsolo, composto por um conjunto de grutas, cavernas e rios subterrâneos.
Secretário municipal de Meio Ambiente e presidente da força-tarefa, Edmundo Diniz garante que o grupo de trabalho vai analisar as atividades na cimenteira.
“Todos os especialistas ouvidos (preliminarmente pela prefeitura) têm descartado essa hipótese, porque, para provocar um tremor como os sentidos até agora, seria necessária uma bomba de potência gigantesca. Mas todas as teses serão consideradas”, afirma.
Formação do solo
Apesar de os estudos estarem em fase inicial, é consenso entre especialistas que a origem dos tremores pode estar na formação do subsolo.
“Sete Lagoas está em uma região cárstica, com várias cavernas e falhas geológicas. De vez em quando, a terra se movimenta para se acomodar. Não necessariamente é o desmoronamento de uma caverna. Pode ser uma acomodação devido ao peso dos sedimentos”, esclarece Diogo Coelho, geofísico, doutor em sismologia e pesquisador do Observatório Nacional.
“(A movimentação da terra) é algo muito comum e que pode liberar energia aos poucos. O tempo de duração do fenômeno vai depender da forma de
acomodação”, explicou.
Natural
A análise dos dados registrados pelas estações sismográficas apontam que os tremores detectados em Sete Lagoas e vizinhança desde abril são de origem natural, segundo George Sand França, professor e pesquisador do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília.
“O terremoto é sentido a uma distância maior, enquanto a explosão é percebida só nas proximidades da detonação”, explicou.
Cimenteira
A empresa Cimento Nacional declarou, por meio de nota, manter controles rígidos do processo de mineração e garantiu que “os eventos que ocorrem em Sete Lagoas não têm qualquer relação com as atividades realizadas na mina”.
A cimenteira afirmou estar à disposição da comunidade para sanar dúvidas sobre a exploração minerária que realiza no município e informou ter convidado profissionais do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP) para participar de encontro que moradores organizavam para quinta-feira (2) – horário e local não foram informados à reportagem.
“O intuito da empresa é contribuir para a comunidade trazendo especialistas no tema, para discorrer sobre os últimos eventos que vêm ocorrendo no município”, reiterou a nota.
Os profissionais da USP chegaram à cidade na quarta (1º), com equipamentos capazes de monitorar mais de perto as atividades sísmicas em Sete Lagoas, como explica Bruno Collaço, um dos sismólogos. Ele confirmou à reportagem que a suposta relação entre as atividades da mineradora e os terremotos é “uma possibilidade que, sem dúvida, será levada em conta” nas análises.
Histórico
Collaço ponderou que há registros de terremotos de origem natural na região desde a década de 1930 e que não é comum uma explosão em mineradora estremecer uma grande região: “No Brasil, a grande parte de eventos chamados ‘induzidos’ é desencadeada por grandes reservatórios de hidrelétricas”.
Via: O Tempo.