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10 anos da beatificação de Nhá Chica: saiba quem é a religiosa do Sul de Minas que se tornou a 1ª beata negra e filha de escrava do Brasil

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Há 10 anos, a pequena cidade de Baependi, no Sul de Minas Gerais, vivia um dos momentos mais importantes de sua história. Naquele 4 de maio de 2013, o município com cerca de 18 mil habitantes se tornou o centro da igreja católica no Brasil. O motivo: a beatificação de Nhá Chica, a primeira negra e filha de escrava a se tornar beata no país.

Fiéis fizeram fila para visitar a casa e o santuário de Nhá Chica. A beatificação foi declarara às 15h30. Usando sombrinhas e proteções, milhares de fiéis acompanharam a cerimônia sob o sol, do jeito que puderam. Além dos fiéis, também estiveram presentes autoridades religiosas do Vaticano e da Igreja Católica brasileira e também autoridades do Governo Federal e Estadual.

Missa reúne devotos nas ruínas da igreja antiga, local onde Nhá Chica foi batizada, no distrito de Santo Antônio do Rio das Mortes, em São João del Rei — Foto: Pastoral de Comunicação São José/Divulgação

O processo durou 20 anos. Leiga, ela não pertencia a nenhuma ordem religiosa. Analfabeta, não lia a bíblia, mas aplicava no dia a dia o amor ao próximo e a caridade, o que a fez ser conhecida como “Mãe dos Pobres”.

Mas como Nhá Chica se tornou a primeira negra e filha de escrava a ser beatificada no Brasil? O g1 separou pontos importantes da história da beata que irão te ajudar a entender como tudo aconteceu.

Saiba quem foi Nhá Chica

  1. Nascimento
  2. Mudança para o Sul de Minas
  3. Devoção
  4. Milagre do órgão
  5. Morte de Nhá Chica
  6. Serva de Deus
  7. Milagre da beatificação
  8. A beatificação

Nascimento

Francisca de Paula de Jesus nasceu em Santo Antônio do Rio das Mortes, distrito de São João Del Rei (MG). Não se sabe exatamente quando ela nasceu, mas estima-se que tenha sido por volta de 1810. O primeiro registro histórico da beata é em 24 de abril de 1810, quando foi batizada.

Mudança para o Sul de Minas

Entre 1814 e 1815, a família de Nhá Chica se mudou para Baependi (MG). Em 1818, a mãe da beata morre e ela passou a viver sozinha com o irmão. Na época, ela tinha apenas 10 anos de vida.

Antes de morrer, Isabel Maria teria dito à filha para ela “permanecer solteira, para melhor servir a Deus e à sua fé”. Francisca nunca se casou e viveu reclusa se dedicando às orações e dando conselhos para quem a procurava.

Devoção

Theotônio, irmão de Francisca, não deixou herdeiros. Quando ele morreu, em 1861, deixou sua fortuna para Nhá Chica, inclusive a casa onde ela vivia e todo o terreno em volta.

Já conhecida como Nhá Chica, que significa Senhora Francisca, a beata iniciou a construção da capela de Nossa Senhora da Conceição, de quem era devota.

Casa de Nhá Chica; Baependi (MG) — Foto: Fernanda Rodrigues/G1
Casa de Nhá Chica; Baependi (MG) — Foto: Fernanda Rodrigues

A capela foi construída por volta de 1863 com o dinheiro herdado do irmão no terreno ao lado da casa. O restante, doou para os pobres.

Milagre do órgão

Contam os relatos que Nossa Senhora da Conceição teria pedido à Nhá Chica que comprasse o instrumento para a igreja. Após perguntar para o padre o que era um órgão, a religiosa pediu para que o maestro Francisco Raposo, amigo dela que sempre tocava para o imperador no Rio de Janeiro, comprasse o instrumento para ela.

Nhá Chica entregou para o maestro um papel com o endereço de onde ele deveria comprar o instrumento. Raposo levou o órgão de trem até Barra do Piraí (RJ). De lá, o instrumento seguiu viagem de carro de boi.

Quando chegou em Baependi, ele não funcionava. Nhá Chica então rezou e disse que Nossa Senhora da Conceição havia dito que o instrumento só funcionaria no dia seguinte, sexta-feira, às 15h. E neste exato momento, o órgão foi tocado pelo maestro para toda a população, que se aglomerou em volta para ver.

Morte de Nhá Chica

Nhá Chica morreu no dia 14 de junho de 1895 com cerca de 85 anos, já que ninguém sabe ao certo quando ela nasceu. Um dos principais registros que se tem da beata foi feito pelo médico Henrique Monat. Ele passava por Caxambu para estudar as águas da cidade e ouviu falar de Nhá.

Esquife que guarda os restos mortais da beata Nhá Chica, no Santuário Nossa Senhora da Conceição, em Baependi — Foto: Crédito: Arquivo pessoal de Maria do Carmo Nicoliello
Esquife que guarda os restos mortais da beata Nhá Chica, no Santuário Nossa Senhora da Conceição, em Baependi — Foto: Crédito: Arquivo pessoal de Maria do Carmo Nicoliello

Cético, porém curioso, conversou com a leiga e registrou toda a entrevista em seu livro “Caxambu”, no qual ele dedica todo um capítulo a contar a história dela. Monat também contratou um fotógrafo e tirou a única foto que existe de Nhá Chica.

Serva de Deus

Em 1989, uma comissão foi montada em prol da beatificação de Nhá Chica. Em 1991, o Vaticano concedeu a religiosa o título de “Serva de Deus”.

O milagre da beatificação

O processo de beatificação começou em 1993, mas foi em 1995 que o processo ganhou um capítulo decisivo. Em julho daquele ano, a professora Ana Lúcia Leite descobriu que tinha um problema congênito no coração.

Na véspera de fazer uma cirurgia, ela sentiu uma forte febre e exames posteriores revelaram que o problema havia desaparecido. Ana Lúcia havia rezado a Nhá Chica e considera que foi curada por intermédio dela.

Em 1998, o provável milagre foi enviado ao Vaticano. Em janeiro de 2011, o Papa Bento XVI aprovou as virtudes heroicas da religiosa e designou o título de Venerável a Nhá Chica. Em outubro do mesmo ano, a comissão médica da Congregação das Causas dos Santos do Vaticano aprovou o milagre atribuído a Nhá Chica, concordando que a cura não tem explicação científica. A comissão de cardeais do Vaticano atestou o milagre em junho de 2012 e no mesmo mês, o Papa Bento XVI assinou o decreto de beatificação de Nhá Chica.

A Beatificação

A cerimônia de beatificação aconteceu no dia 4 de maio de 2013. Os bispos de todo o país e o representante do Vaticano Cardeal Angelo Amato estiveram presentes na celebração.

Veja mais fotos da beatificação de Nhá Chica — Foto: Samantha Silva
Veja mais fotos da beatificação de Nhá Chica — Foto: Samantha Silva

Dom Diamantino Prata de Carvalho, bispo de Campanha (MG), fez a leitura do pedido oficial para que Francisca de Paula de Jesus se tornasse oficialmente a primeira beata do Sul de Minas.

Por volta de 15h25, a carta do Papa começou a ser lida em idioma italiano. Nela, Papa Francisco atendia o desejo do irmão bispo de Campanha (MG) e a Venerável Serva de Deus, leiga, negra e filha de ex-escrava, era postulada a beata.

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Uma resposta para “10 anos da beatificação de Nhá Chica: saiba quem é a religiosa do Sul de Minas que se tornou a 1ª beata negra e filha de escrava do Brasil”

  1. minha querida inha chica ,protetora dos pobres,abencoa a minha cada e minha familia neste momento tão difícil que estamos passando
    .tende misericórdia de nós eenvia um anjo para nos traser alimentos…minha preocupacao são as 4 criancas pequenas que aqui vivi e e são meus bisnetos tão pequenos e queridos…obrigado santinha querida…há anos conheci sua magnifica estatua na igreja de São Benedito e desde o primeiro momento sou eternamente sua devota…gratidão meu deus
    gratidão senhor jesus
    gratidão inha chica
    louvado seja teu santo nom..amém

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