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Quaresma e Campanha da Fraternidade 2024

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Campanha da Fraternidade 2024 - Imagem: CNBB
Campanha da Fraternidade 2024 – Imagem: CNBB

Inspirada na Encíclica do Papa Francisco, Fratelli Tutti, a Campanha da Fraternidade de 2024 tem como tema: “Fraternidade e Amizade Social” e o lema: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23, 8). A Campanha da Fraternidade, dentro do caminho penitencial da Igreja, propõe durante a Quaresma desse ano, um convite de conversão para a amizade social e ao reconhecimento da vontade de Deus de que todos sejam irmãos e irmãs, todos fraternos e tudo fraterno, numa fraternidade universal.

“Ponham-se em maior realce, tanto na Liturgia como na catequese litúrgica, os dois aspectos característicos do tempo quaresmal, que pretende, sobretudo através da recordação ou preparação do Baptismo e pela Penitência, preparar os fiéis, que devem ouvir com mais frequência a Palavra de Deus e dar-se à oração com mais insistência, para a celebração do mistério pascal. (Sacrosanctum Concilium, n. 109)”

O documento conciliar, também afirma que “a penitência quaresmal deve ser também externa e social, que não só interna e individual.” Neste contexto, em 1961, teve início a Campanha da Fraternidade, quando três sacerdotes que trabalhavam na Caritas brasileira, um dos organismos da CNBB, planejaram uma campanha para arrecadar recursos com o objetivo de financiar as atividades assistenciais da instituição.

No programa de hoje, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe a reflexão “Quaresma e Campanha da Fraternidade 2024”:

“Tradicionalmente, o período da Quaresma se estende por 40 dias, iniciando-se na Quarta-Feira de Cinzas e se encerrando no Domingo de Ramos, ou seja, uma semana antes do Domingo de Páscoa. No entanto, desde o pontificado de Paulo VI, a Quaresma tem duração de 44 dias, pois só se encerra na Quinta-Feira Santa. A palavra quaresma vem de “quarenta” e o número 40, para os israelitas, possui um significado teológico que tem sua origem na própria história do Povo de Israel.

No Antigo Testamento, o número 40 ocorre inúmeras vezes relacionado a momentos significativos da história bíblica: o período do dilúvio para a purificação no tempo de Noé foi de 40 dias (Gn 7,4); são 40 dias passados por Moisés no Monte Sinai (Ex 24,12-18.34) para receber a Tábua da Lei dos Dez Mandamentos; os hebreus caminharam 40 anos pelos desertos até atingir Canaã (Js 5,6) para Deus conhecer o seu coração duro como pedra; a duração do bom reinado de Davi foi de 40 anos (2Sm 5,4); foram 40 dias que Golias enfrentou Israel até que o pequeno Davi o enfrenta-se, derrubasse por meio de uma funda, e, por fim, o matasse (1Sm 17,1-51). Elias caminhou 40 dias para encontrar-se com Deus, no Sinai, numa brisa suave (1Rs 19,8) e não na turbulência do fogo, tempestade e terremoto. Em 40 dias, a cidade de Nínive seria destruída, caso não houvesse conversão do Povo pela pregação de Jonas (Jn 3,4). Há praticamente em todos esses textos vetero-testamentários, ou seja, do Antigo Testamento, um imperativo de escuta da Palavra e convite à conversão, proposta da quaresma que prepara a grande festa da Páscoa. No Novo Testamento, o simbolismo do número 40 continua. Jesus recolhe-se no deserto por 40 dias e 40 noites (Mt 4,3; Mc 1.1; Lc 4,2) onde enfrenta as tentações de Satanás e, após a ressurreição, permanece na terra 40 dias entre os discípulos (At 1,3) dando-lhes instruções para a evangelização, antes de ascender aos céus.

Por ocasião desta quaresma, o Papa Francisco aponta: “Deus não se cansou de nós. A Quaresma é tempo de conversão, tempo de liberdade. O próprio Jesus foi impelido pelo Espírito para o deserto a fim de ser posto à prova na sua liberdade. O deserto é o espaço onde a nossa liberdade pode amadurecer numa decisão pessoal de não voltar a cair na escravidão. Na Quaresma, encontramos novos critérios de juízo e uma comunidade com a qual avançar por um caminho nunca percorrido”. O Papa ressalta ainda que “isto comporta uma luta: assim nos dizem claramente o livro do Êxodo e as tentações de Jesus no deserto”.

Cardeal Jozef Tomko impõe as cinzas com o sinal da cruz na testa do Papa Francisco. (Photo AFP/Filippo Monteforte)  (AFP or licensors)
Cardeal Jozef Tomko impõe as cinzas com o sinal da cruz na testa do Papa Francisco. (Photo AFP/Filippo Monteforte) (AFP or licensors)

O Concílio Vaticano II, na Constituição Sacrosanctum Concilium, prestou particular atenção à apresentação do Tempo da Quaresma. Em preparação à abertura do Ano Jubilar, e atendendo um pedido do Papa Francisco, o Dicastério (setor de Roma) para a Evangelização lançou, no início do ano passado, a coletânea sobre o Concílio Vaticano II intitulada “Jubileu 2025 – Cadernos do Concílio”, com o objetivo de promover uma redescoberta do evento conciliar e seu significado para a vida da Igreja em todos esses 60 anos transcorridos.

O caderno de número 13 desses ricos subsídios descreve os diversos tempos litúrgicos e aponta o significado da quaresma, referendando a Constituição Sacrosanctum Concilium: “O texto conciliar, ao sublinhar os principais elementos que sustentam o caminho quaresmal da Igreja, isto é, o Batismo – com sua memória ou preparação – a Penitência, a escuta assídua da Palavra de Deus e a oração, pretende indicar a referência fundamental para compreender seu valor e significado. No processo de formação deste período de preparação para a Páscoa, a referência ao Batismo e à Penitência foi a chave de interpretação da Quaresma e da sua relação com a vida do cristão e da Igreja. Para o Batismo, o Concílio recomenda a recuperação dos elementos batismais próprios da liturgia quaresmal; para a Penitência, insiste no significado pessoal e social do pecado”[1].

Na quaresma, portanto, não deve haver simplesmente uma conversão pessoal, mas também uma mudança nas estruturas sociais que condicionam o indivíduo. A Constituição Sacrosanctum Concilium, no número 110, aponta com propriedade assim afirmando: “A penitência quaresmal deve ser também externa e social, que não só interna e individual. Estimule-se a prática da penitência, adaptada ao nosso tempo, às possibilidades das diversas regiões e à condição de cada um dos fiéis”. Por isso, a Igreja no Brasil, desde a época pós-conciliar, realiza no país a tradicional Campanha da Fraternidade, destacando um aspecto, uma chaga, um desafio concreto, onde se entenda que falte a fraternidade, falte a solidariedade, falte a luz da prática do Evangelho para vivenciarmos melhor o tempo quaresmal. Inspirada na Encíclica do Papa Francisco, Fratelli Tutti, a Campanha da Fraternidade (CF) de 2024 tem como tema: “Fraternidade e Amizade Social” e o lema: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23, 8). A Campanha da Fraternidade, dentro do caminho penitencial da Igreja, propõe durante a Quaresma desse ano, um convite de conversão para a amizade social e ao reconhecimento da vontade de Deus de que todos sejam irmãos e irmãs, todos fraternos e tudo fraterno, numa fraternidade universal, como inspira o título da Encíclica Papal Fratelli Tutti.”

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.


[1] Cadernos do Concílio, Jubileu 2025, n.13. Os tempos fortes do Ano Litúrgico, Edições CNBB, p. 13.

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