
No último dia 11 de fevereiro, por volta das 7h30 da manhã, a cozinheira e doméstica Elisângela Gonçalves dos Santos, mais conhecida como Pretha Santos, 34 anos, pediu uma moto táxi com destino ao seu local de trabalho.
O que era para ser apenas uma corrida profissional, acabou se tornando um momento de sofrimento para a passageira.
De acordo com Elisângela, ao invés de um profissional, o responsável pela corrida já chegou de alma e coração amargo.
“Assim que subi na moto, o piloto passou um rádio para um colega de profissão, dizendo que ele jogou uma bomba na mão dele e ficou balanço a cabeça”. Informou Pretha.
A cozinheira sentiu na pele a dor do preconceito
“Aquilo me doeu tanto, que comecei a chorar. E não contente apenas com as palavras, chegando em meu destino, ele freou a motocicleta bruscamente, que fui para cima dele, daí ele esquivou o corpo para não me encostar. Naquele momento tive a certeza que os tempos não mudaram, ainda tem o tal preconceito de ser gordo, de ser preto e assim vai. Não vou deixa me leva por isso. Mas me machucou demais”. Emocionada contou a vítima.
Pretha Santos, como gosta de ser chamada, afirma que não vê problemas em ser gorda ou negra. Afinal, ela é uma mulher empoderada e diariamente luta para cuidar dos seus 3 filhos, a qual ela cuida sozinha.
Racismo e gordofobia são crimes
Estudos indicam que, apesar dos esforços de conscientização, atitudes preconceituosas explícitas contra gordos aumentaram consideravelmente. Ainda é mais comum, no entanto, que o preconceito apareça travestido de elogio ou preocupação. Frases como “você tem o rosto tão bonito, por que não emagrece?”, “nossa, eu que sou mais magra que você não tenho coragem de usar biquíni” ou “seu marido é tão magro e você é tão gorda, dá certo?” são ouvidas por mulheres. Elas são reflexo da chamada gordofobia, o preconceito ou intolerância contra pessoas gordas.
Enquanto injúria racial e violência contra a mulher são consideradas crime no Brasil, o preconceito com pessoas gordas não apenas passa batido como é até encorajado por órgãos de saúde pública e campanhas de publicidade, especialmente durante o verão, quando os corpos estão mais à mostra. Mas por que, afinal, há tamanha intolerância com o corpo gordo?
De acordo com o sociólogo Oracy Nogueira [1917-1996], no Brasil, o racismo foi identificado como um “preconceito de marca”, ou seja, uma pessoa é discriminada conforme suas características físicas: o tom da pele, o desenho do nariz e dos lábios, a natureza do cabelo, os gestos, o sotaque.
Isso é diferente do que ocorre, por exemplo, nos Estados Unidos, onde prevalece um “preconceito de origem”: uma pessoa é identificada como negra se pertence a uma família negra.
Os tempos passam e as pessoas não mudam a concepção de pensamento. Alguns apenas respeitam, mas outros usam pessoas como Elizângela, sentir acima de todas as coisas, esquecendo que todos somos mortais e precisamos uns dos outros.