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Apicultores denunciam a mortandade de abelhas causada por agrotóxicos, em São José da Barra e região

Apicultores denunciam a mortandade de abelhas causada por agrotóxicos, em São José da Barra e região - Foto: divulgação
Apicultores denunciam a mortandade de abelhas causada por agrotóxicos, em São José da Barra e região – Foto: divulgação

Apicultores de São José da Barra (MG) e região tiveram uma surpresa nada agradável ao chegarem aos apiários, na última semana. Milhares de abelhas foram encontradas mortas pelos profissionais. Eles relatam que as mortes foram causadas pelo uso irregular de agrotóxicos, usados em canaviais.

O defensivo foi pulverizado nas plantações, utilizando uma aeronave de pequeno porte, no último dia 15 de fevereiro.

Segundo Fabinho, um dos apicultores afetados, o defensivo dizimou 160 colmeias do seu apiário, além de 160 a 200 em Passos (MG), 40 em Alpinópolis (MG) e muito mais em outras localidades da região.

Os apicultores cobram uma providência das autoridades pelo prejuízo causado.

‘’Outros apicultores ainda não foram em seus apiários ainda, para constatar o que já vimos aqui: só destruição e prejuízo. O nosso prejuízo, vendo assim, visível, apenas com o material em colmeias, chega a R$ 100 mil. O que vamos deixar de produzir até setembro, outubro, para refazer isso, não tem estimativa. É uma tristeza muito grande, isso aqui são anos de serviços dedicados, para chegarmos dentro do apiário e vermos uma situação dessa’’, relatou Fabinho.

O Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) esteve nos locais para coletar amostras e analisar, a fim de descobrir qual tipo de defensivo foi usado.

Importância das abelhas e mortes por agrotóxicos

Produtoras de mel, as abelhas desempenham o fundamental serviço ambiental de polinização, que tem papel importante na biodiversidade das plantas e na produtividade agrícola. Porém, também têm sido alvo das mudanças climáticas e, sobretudo, de agrotóxicos que enfraquecem o sistema imunológico, atrofiam as glândulas produtoras de proteína da geleia real e destroem colônias inteiras.

Nos últimos seis anos, segundo estimativas de associações de apicultura, secretarias de agricultura e pesquisas realizadas por universidades, mais de 600 milhões de abelhas morreram no país e o principal motivo é o uso alarmante de veneno. É importante ressaltar que as abelhas são cruciais para os ecossistemas e para a segurança alimentar em todo mundo, sendo responsáveis por polinizar a maioria das plantas e dos vegetais que nutrem todas as espécies: “As abelhas prestam um serviço fundamental para a humanidade, são elas e outros insetos polinizadores que garantem a produção de alimentos e contribuem para a manutenção das florestas. Colocá-las sob ameaça é um tiro no pé da produção da nossa própria sobrevivência”, afirma Marina Lacôrte, porta-voz do Greenpeace Brasil.

Apicultores denunciam a mortandade de abelhas causada por agrotóxicos, em São José da Barra e região - Foto: divulgação
Apicultores denunciam a mortandade de abelhas causada por agrotóxicos, em São José da Barra e região – Foto: divulgação
Apicultores denunciam a mortandade de abelhas causada por agrotóxicos, em São José da Barra e região - Foto: divulgação
Apicultores denunciam a mortandade de abelhas causada por agrotóxicos, em São José da Barra e região – Foto: divulgação

Laudo aponta que envenenamento por agrotóxicos matou milhões de abelhas em São Sebastião do Paraíso

Apicultores de São Sebastião do Paraíso (MG) convivem com as mortes de milhões de abelhas desde setembro do ano passado. Pelo menos dez apicultores da região registraram o problema. Um laudo apontou que as abelhas morreram de envenenamento por agrotóxicos.

“Essas abelhas estão nesse apiário de 4 pra 5 anos e nunca teve problema né, de uns 2 anos pra cá mais ou menos, com a introdução de alguma cultura aqui em volta, a gente veio percebendo que veio morrendo abelha, mas não era nessa quantidade, morria as campeiras, mas o enxame continuava forte, com dois, três meses recuperava, mas desta vez não, desta vez morreram as abelhas tudo”, disse o apicultor Marcelo Francisco Ribeiro.

Só em uma propriedade, mais de 850 mil abelhas foram encontradas mortas. O prejuízo ainda não foi calculado.

“É um prejuízo grande, porque você vem montar desde caixa, até você por melgueira, até que você põe cera e vai levantando o exame, e tem alimentação também, você tem um gasto enorme sobre esses enxames, a gente fica meio constrangido às vezes e pensa em até abandonar a profissão”, disse o apicultor Valdivino Augusto Alvim.

Para tentar entender o que aconteceu na propriedade, o produtor procurou um laboratório no interior de São Paulo para que os insetos mortos fossem examinados. O teste apontou que as abelhas morreram por envenenamento devido ao alto índice de agrotóxicos.

“Eu fiz análise e constou veneno proibido e constou inclusive “Aldicarbe”, que é conhecido como chumbinho, que pode matar uma pessoa e isso saiu na análise das minhas abelhas”, disse o apicultor Marcelo Francisco Ribeiro.

O exame revelou que pelo menos cinco agrotóxicos foram encontrados em quantidades elevadas nas abelhas mortas, entre eles Glifosato, Clorpirifós, Permetrina, Propanil e Trifluralina, agrotóxicos utilizados para controle de pragas.

Segundo o doutor em Ecologia, Hipólito Ferreira Paulino Neto, alguns desses inseticidas já foram banidos em outros países, mas ainda são usados no Brasil.

“Se a toxicidade é alta e está sendo alta no Brasil, é bem comum isso, especialmente agora que teve uma liberação de quase 1,6 mil agrotóxicos que são banidos na União Europeia, nos Estados Unidos e aqui no Brasil é utilizado e até muito comercializado, elas intoxicam, começam a morrer e afetam todo um sistema, que é de comportamento das abelhas, por exemplo, o comportamento higiênico, de limpeza da colônia, de tirar pragas que afetam a colônia internamente ou de detectar abelhas doentes para não espalharem para a colônia inteira, afetam o comportamento defensivo daquela colmeia, ela fica vulnerável, o mel e o pólen, estão contaminados”, disse o professor.

As abelhas são agentes polinizadores, ou seja, garantem a reprodução das plantas. A morte ou desaparecimento desses insetos são prejudiciais à humanidade, segundo o professor.

“As abelhas correspondem a 75% da polinização e da produção dos alimentos que o ser humano utiliza para viver. É muito surreal, o Homo sapiens, a nossa espécie chama Homo sapiens e sapiens, de sabedoria, a gente está agindo de forma totalmente ao contrário disso, não sábia e matando os polinizadores, matando quem produz a comida pra gente”, completou o professor. (G1)

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