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Arsênio, mercúrio e chumbo: Fiocruz acha metais pesados na urina em 100% das crianças de Brumadinho

Arsênio, mercúrio e chumbo: Fiocruz acha metais pesados na urina em 100% das crianças de Brumadinho - Foto - Isis Medeiros
Arsênio, mercúrio e chumbo: Fiocruz acha metais pesados na urina em 100% das crianças de Brumadinho – Foto – Isis Medeiros

Seis anos após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, pesquisadores ainda avaliam os impactos causados na saúde da população pelo derramamento dos 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério, que soterraram e mataram 272 pessoas em 2019.

Divulgado na última sexta-feira (24), um estudo feito por pesquisadores da Fiocruz Minas e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) apontou a presença de metais pesados em 100% das amostras de crianças analisadas na cidade de quase 40 mil habitantes.

Em nota, a mineradora afirmou que “realizou uma extensa investigação nos sedimentos e solos na Bacia do Paraopeba, com intuito de avaliar possíveis impactos por conta do rompimento da Barragem B1 em 2019, em Brumadinho” e que “os resultados de mais de 400 amostras e 6 mil análises não apresentaram concentrações de elementos potencialmente tóxicos acima dos limites estabelecidos pela legislação”. A Vale ainda afirmou que irá avaliar o estudo divulgado nesta sexta.

O estudo identificou que, entre as crianças de 0 a 6 anos, havia a presença de pelo menos um dos cinco metais (cádmio, arsênio, mercúrio, chumbo e manganês) em todas as amostras de urina analisadas. No caso do arsênio — elemento químico tóxico para os humanos que pode ser fatal em doses altas —, entre 2021 e 2023 o número de pequenos com níveis acima do valor de referência passou de 42% para 57%. Porém, este número é ainda maior à medida que se aumenta a proximidade destas crianças com a área do desastre ou da mineração ativa no município. 

De acordo com a Fiocruz, o levantamento faz parte do “Programa de Ações Integradas em Saúde de Brumadinho”, que visa detectar as mudanças ocorridas após o rompimento em médio e longo prazo. Com isso, os participantes são acompanhados anualmente desde 2021.

Entre os metais, o arsênio é o que aparece mais frequentemente também entre os adultos, com positivo em cerca de 20% das amostras. Já entre os adolescentes o percentual do metal encontrado foi de 9%, número que chega a 20,4% dependendo da região da moradia. Entre os cinco metais pesados analisados, o arsênio, o chumbo e o mercúrio estavam presentes em 100% das amostras de crianças com idades entre 0 e 6 anos. 

“Os resultados encontrados demonstram uma exposição aos metais e não uma intoxicação, que só pode ser assim considerada após avaliação clínica e realização de outros exames para definir o diagnóstico. Dessa forma, recomenda-se uma avaliação médica para todos os participantes da pesquisa que apresentaram níveis acima dos limites biológicos recomendados”, diz o estudo.

“Além disso, é necessária uma rede de atenção que permita realização de exames de dosagem desses metais não apenas na população identificada pelo projeto, mas para atender outras demandas do município. Essa organização da rede de serviços é importante, considerando que a exposição aos metais investigados permanece entre 2021 e 2023, de forma disseminada em todo município”, continuam os pesquisadores. 

Impacto na saúde

Outro ponto estudado pelos pesquisadores foi com relação às condições de saúde da população, fator que é analisado com base em diagnósticos anteriores e na percepção dos próprios participantes do programa. Perguntados sobre doenças crônicas, os adolescentes citaram principalmente asma ou bronquite asmática, doença frequente nos relatos de 12,7% dos jovens em 2021 e em 14% dois anos depois. Também foi registrado aumento nos diagnósticos de colesterol alto (de 4,7% para 10,1%) e no grupo de doenças que inclui efisema, bronquite crônica ou doença pulmonar obstrutiva crônica, que passou de 2,7% para 10,7% em 2023. 

Entre os adultos, as principais doenças citadas em 2021 foram hipertensão (27,9%), colesterol alto (20,9%) e problemas na coluna (19,7%). Dois anos depois, esses índices passaram para 30%, 28,5% e 22,8%, respectivamente. A pesquisa ainda investigou a presença de sintomas e outros sinais nos 30 dias que antecederam a entrevista, sendo que também houve aumento entre os dois anos analisados, como irritação nasal (passou de 31,8% para 40,3% em 2023) e dormências ou cãibras (de 25,2% para 34,4%). 

“A pior percepção da saúde é um indicador de extrema importância para avaliação da condição geral da saúde em uma população, refletindo impacto negativo nessa condição entre os moradores das áreas atingidas pela lama e pela atividade de mineração. Sobre as condições crônicas, é importante ressaltar a elevada carga de doenças respiratórias e do relato de sinais e sintomas, o que demonstra a necessidade de maior atenção dos serviços de saúde sobre esse aspecto, que pode estar relacionado às condições do ambiente, como disseminação de poeira pela natureza da atividade produtiva”, destaca Sérgio Peixoto, coordenador-geral da pesquisa.

Com o aumento nos casos de doenças crônicas, consequentemente o estudo também identificou uma elevação na busca pelos serviços de saúde do município. Entre os adolescentes, 44,1% disseram ter realizado três ou mais consultas em 2023, enquanto dois anos antes esse índice era de 21,7%. Nos adultos o número passou de 38,6% para 53,7%. 

“A elevada utilização dos serviços de saúde e a menção ao serviço público como sendo a principal referência para atendimento demonstram a grande demanda para o SUS no município, mas também o grande potencial desse sistema para a realização de intervenções efetivas que visem minimizar os impactos na saúde da população”, completa o coordenador do estudo.

Índice de depressão na cidade é o dobro da média no Brasil

Outro ponto analisado pela pesquisa foi com relação à saúde mental dos moradores de Brumadinho. Segundo o estudo, os resultados mostraram que 10,6% dos adolescentes apresentaram diagnóstico para depressão, número que sobe para 22,3% entre os adultos. O valor representa quase o dobro da média de 10,2% entre os adultos brasileiros segundo  a Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo IBGE em 2019. 

Além disso, 32,7% dos entrevistados com mais de 18 anos relataram diagnóstico de ansiedade ou problemas no sono em 2023. “Esses números mostram a necessidade de avaliar as ações voltadas à saúde mental no município, dada a manutenção de elevada carga de transtornos mentais na população, nos dois anos avaliados. Faz-se necessário priorizar estratégias intersetoriais, considerando a complexidade do problema e as especificidades de cada território”, finaliza Peixoto.

Leia nota da Vale na íntegra

A Vale informa que realizou uma extensa investigação nos sedimentos e solos na Bacia do Paraopeba, com intuito de avaliar possíveis impactos por conta do rompimento da Barragem B1 em 2019, em Brumadinho. Os resultados de mais de 400 amostras e 6 mil análises não apresentaram concentrações de elementos potencialmente tóxicos acima dos limites estabelecidos pela legislação. Com relação ao estudo divulgado nesta sexta-feira, a Vale ainda irá avaliar, detalhadamente, os resultados divulgados pela Fiocruz. 

A Vale lembra que os esforços voltados à saúde foram estendidos a todos os moradores de Brumadinho  e, em 2019, assinou acordo de cooperação com a prefeitura para repasses destinados à ampliação da assistência de saúde e psicossocial no município. Também foi implantado o Programa Ciclo Saúde, que fortaleceu a Rede de Atenção Básica em Brumadinho e em outros municípios afetados. Mais de 2.500 profissionais da área de saúde foram capacitados e mais de 5.000 equipamentos foram entregues para 143 Unidades Básicas de Saúde desses municípios.
 
No âmbito do Acordo Judicial de Reparação Integral, também há projetos com foco no fortalecimento dos serviços de saúde que vão desde aquisição de equipamentos médico/hospitalares, custeio de serviços até reformas/construção de unidades de saúde.

A Vale esclarece ainda que segue empenhada e comprometida com o propósito de reparar os impactos causados às pessoas, às comunidades e ao meio ambiente em Brumadinho.

São José da Barra recebe R$400 mil referente à primeira parcela do acordo com a Vale

Na última semana, a Prefeitura Municipal de São José da Barra (MG), recebeu a primeira parcela do acordo com a Vale.

As demais parcelas no valor de R$300 mil cada, estão previstas para estarem na conta até dia 31 de janeiro de 2022 e a última até dia 1⁰ de julho de 2022.

O vice-presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Deputado Antônio Carlos Arantes (PSDB), juntamente com demais deputados, empenhou desde o início para a concretização deste projeto.

“Depois de muito trabalho do Governador Romeu Zema (Novo), junto à Assembleia Legislativa de Minas Gerais, podemos comemorar: a primeira parcela do Acordo Vale já está na conta. O restante dos recursos serão divididos em duas parcelas. Em um evento para mais de 500 prefeitos, vice-prefeitos e vereadores, afirmei mais uma vez o meu compromisso com o povo de Minas Gerais para o desenvolvimento do nosso Estado”, frisou Arantes.

Passos recebe R$ 2,8 milhões de repasse de acordo da Vale; valor será destinada para reforma da UPA

As quatro maiores cidades do Sul de Minas receberam nesta semana mais de R$ 10 milhões referente à 1ª parcela do acordo da Vale com o Governo de Minas Gerais. Esse crédito suplementar foi aprovado pela Assembleia Legislativa em julho e faz parte das ações de reparação da empresa por causa da tragédia de Brumadinho.

Dos recursos do acordo judicial entre a Vale e o setor público do governo de Minas Gerais, R$ 11,06 bilhões foram repassados aos 853 municípios. Ao todo, serão três parcelas. A primeira, de 40% do valor, foi depositada no começo desta semana.

A segunda parcela, de 30% do valor total, será paga até o dia 31 de janeiro de 2022 e a parcela restante, do mesmo valor, será paga até 1º de julho de 2022. O dinheiro foi distribuído proporcionalmente pelo número de habitantes e o valor mínimo será de R$ 750 mil.

Poços de Caldas, Pouso Alegre, Varginha e Passos receberam neste primeiro depósito R$ 2,8 milhões. Em Poços de Caldas, segundo a prefeitura, o dinheiro será usado para a manutenção do asfalto da cidade. Já a Prefeitura de Pouso Alegre informou que deverá investir o valor na infraestrutura do município.

Varginha também deverá utilizar o repasse para investimentos na infraestrutura. A Prefeitura de Passos também informou que vai usar o valor na infraestrutura, com prioridade para a reforma total do prédio da UPA.

Acordo com a Vale: governo abre contas para repasses a municípios e divulga orientações a prefeitos

A primeira parcela dos valores provenientes do Termo de Reparação será depositada para 853 cidades de Minas Gerais até o fim de agosto

As contas bancárias em nome dos 853 municípios mineiros para o repasse dos recursos referentes ao Termo de Medidas de Reparação dos danos provocados pelo rompimento das barragens da Vale S.A. em Brumadinho já foram abertas pelo Governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Governo (Segov) e do Comitê Gestor Pró-Brumadinho. O valor total a ser repassado, cerca de R$ 1,5 bilhão, está previsto na Lei 23.830, de 28 de julho de 2021, que autoriza a utilização de R$ 11,06 bilhões, correspondentes a parte dos recursos do acordo judicial firmado pelo Poder Público com a Vale, em ações e projetos no estado. 

A Secretaria de Estado de Governo e o Banco do Brasil S.A. farão uma comunicação formal a cada um dos municípios com os dados referentes às contas e à continuidade do processo para ativação e uso. Nesse comunicado, são repassadas as orientações básicas que os prefeitos precisam seguir. 

Os municípios terão até 90 dias, a contar da data de abertura, para procurar a respectiva agência de relacionamento do Banco do Brasil, que será indicada no comunicado formal, para assinar os documentos referentes à nova conta. Após este prazo, caso o município beneficiário não realize os trâmites necessários, as contas serão encerradas automaticamente.

A previsão legal é de que os valores referentes a cada município, proporcionais à população, sejam depositados em três parcelas, sendo 40% (quarenta por cento) até 30 de agosto de 2021; 30% (trinta por cento) até 31 de janeiro de 2022; e 30% (trinta por cento) até 1º de julho de 2022. Conforme determinado na Lei, as contas bancárias, os objetos da aplicação dos recursos e os valores a serem alocados em cada objeto deverão ser informados pelo município ao membro do Ministério Público de sua comarca e ao Tribunal de Contas do Estado.

Outras informações podem ser obtidas clicando aqui.

Programa de Apoio ao Desenvolvimento Municipal (Padem)

O repasse de R$ 1.498.250.000,00 para os 853 municípios de Minas Gerais, proporcionalmente à população, está previsto na Lei 23.830/21 e será utilizado para execução no Programa de Apoio ao Desenvolvimento Municipal (Padem). 

O recurso é proveniente do Termo de Medidas de Reparação, assinado pelos compromitentes – Governo do Estado, Ministério Público de Minas Gerais, Ministério Público Federal e Defensoria Pública de Minas Gerais – e pela compromissária – Vale S.A. – e homologado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em 4 de fevereiro deste ano.

O valor total para aplicação nas medidas de reparação socioeconômicas e socioambientais é de R$ 37,68 bilhões, dos quais R$ 11,06 bilhões são de investimentos a serem realizados pelo Governo de Minas. Para recebimento deste recurso de R$ 11,06 bilhões, um Projeto de Lei foi encaminhado à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) que foi aprovado em 14 de julho e sancionado pelo governador Romeu Zema no dia 27.

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