Jornal Folha Regional

Rússia começará a distribuição de vacinas contra o câncer

Rússia começará a distribuição de vacinas contra o câncer - Foto: reprodução
Rússia começará a distribuição de vacinas contra o câncer – Foto: reprodução

A Rússia anunciou que vai começar a distribuição da vacina contra o câncer nos próximos meses e será oferecida gratuitamente a pacientes russos. O imunizante, desenvolvido em colaboração com diversos centros de pesquisa, promete revolucionar o tratamento da doença.

Utilizando a tecnologia de RNA mensageiro (mRNA), a mesma utilizada em doses contra a covid-19, a vacina oferece uma abordagem personalizada e direcionada. Cada dose é desenvolvida com base na análise genética do tumor de cada paciente, “ensinando” o sistema imunológico a reconhecer e atacar células cancerígenas específicas.

O Centro Nacional de Pesquisa Médica do Ministério da Saúde destacou o potencial transformador dessa vacina, que combina inovação tecnológica e personalização do tratamento. A expectativa é que a iniciativa coloque a Rússia na vanguarda das terapias oncológicas, beneficiando não apenas os pacientes, mas também inspirando avanços na medicina global.

Rússia anuncia vacina gratuita contra o câncer prevista para 2025

Rússia anuncia vacina gratuita contra o câncer prevista para 2025 - Foto: reprodução
Rússia anuncia vacina gratuita contra o câncer prevista para 2025 – Foto: reprodução

Uma vacina contra o câncer, desenvolvida na Rússia, foi anunciada nesta semana pelo Ministério da Saúde do país. O imunizante já estaria em fase final e poderá ser disponibilizado para pacientes em 2025, de forma gratuita.

A notícia foi anunciada pela Rádio Rossiya, durante entrevista com Andrey Kaprin, diretor geral do Centro de Pesquisa Médica em Radiologia do Ministério da Saúde da Rússia.

A vacina é o resultado do trabalho de vários centros de pesquisa. Estudos apontaram que o imunizante tem a capacidade de reduzir o crescimentos dos tumores e prevenir metástases.

Como funciona?

O imunizante seria responsável por introduzir um pedaço de RNA mensageiro no corpo, levando as células a produzir uma proteína específica. Na prática, o sistema imunológico vai reconhecer essa proteína como estranha e gerar anticorpos para combatê-la.

No caso do câncer, esse processo é adaptado para ajudar o sistema imunológico a identificar e atacar células cancerígenas.

Julho Verde reforça a conscientização e prevenção do câncer de cabeça e de pescoço

Julho Verde reforça a conscientização e prevenção do câncer de cabeça e de pescoço - Foto: Rafael Assis
Julho Verde reforça a conscientização e prevenção do câncer de cabeça e de pescoço – Foto: Rafael Assis

Hélio Francisco da Costa trabalhava como pedreiro quando começou a apresentar rouquidão constante. “O tempo foi passando e meus colegas sempre me dizendo que não era normal e que eu deveria procurar um médico. Quando eu finalmente fui consultar, tive a notícia que estava com câncer de laringe”, conta ele, que descobriu a doença há três anos.

O tratamento incluiu sessões de radioterapia e cirurgia. “No início foi muito difícil, eu ficava muito nervoso, pois tentava me comunicar com as pessoas, mas somente a minha irmã me entendia, já que com a retirada das cordas vocais eu não podia mais falar”, lembra. 

Ele foi um dos 13 pacientes do Hospital Alberto Cavalcanti (HAC), que receberam uma laringe eletrônica em 2023. Um ano depois, Seu Hélio, que ainda frequenta a unidade para consultas regulares de acompanhamento, só tem a agradecer. “Agora está muito bom, melhorou 100%. Me comunico com qualquer pessoa, sem nenhum problema”, afirma feliz.

Julho Verde reforça a conscientização e prevenção do câncer de cabeça e de pescoço - Foto: Rafael Assis
Julho Verde reforça a conscientização e prevenção do câncer de cabeça e de pescoço – Foto: Rafael Assis

O Hospital Alberto Cavalcanti, da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), foi o primeiro hospital público estadual a entregar laringes eletrônicas. O investimento total foi de R$ 50 mil na compra das 20 primeiras unidades do equipamento. 

Em 2024, oito novas laringes eletrônicas já foram entregues e outras duas estão previstas para os próximos dias. 

“Todos os pacientes que foram submetidos a tratamentos que resultaram na retirada completa das cordas vocais – laringectomia total – são elegíveis ao uso de laringe eletrônica. Isto melhora a qualidade de vida dos pacientes e familiares, principalmente daqueles com dificuldades de comunicação escrita”, afirma o médico cirurgião Guilherme de Souza Silva, coordenador do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do HAC.

Julho Verde

Neste mês, a campanha Julho Verde intensifica os alertas sobre a importância da prevenção e da detecção precoce do câncer na região da cabeça e pescoço, que atinge órgãos como boca, língua, gengivas, faringe, laringe, esôfago, tireóide, cavidade nasal, seios paranasais e glândulas salivares. 

Entre o período de 2019 e 2024 foram registrados em Minas Gerais mais de 22,7 mil casos e 8.645 óbitos por causa desse tipo de câncer.

Dentre as neoplasias de cabeça e pescoço, o câncer de lábio e cavidade oral estão entre os mais prevalentes. Entre 2019 e 2024 foram diagnosticados 3.504 casos do câncer de orofaringe e 2.976 casos da doença na língua e mais de 30 mil internações associadas ao câncer de cabeça e pescoço. Cerca de 66% delas estavam relacionadas ao câncer de boca.

Esse é o quinto tipo de câncer mais incidente no Brasil, mas seu índice de cura pode chegar a 90% se tratado precocemente. “Quando o diagnóstico é feito na fase inicial da doença, as chances de cura são muito altas”, destaca o médico cirurgião.

Fatores de risco e prevenção

Esse tipo de câncer atinge, em sua maioria, homens acima de 50 anos. Todavia, o médico alerta para o crescimento do número de mulheres acometidas pela doença, que é causada, em grande parte, pelo consumo exagerado de cigarros e bebidas alcoólicas. O número de casos em fumantes chega a ser de duas a três vezes maior que entre não fumantes. 

“Há alguns anos, a proporção era de 11 homens para cada mulher. Hoje, com o aumento no número de mulheres fazendo uso de álcool e cigarros, essa proporção diminuiu e temos três homens para cada mulher com a doença”, ressalta Guilherme de Souza Silva. 

Além disso, outros fatores de risco são o uso de cigarros eletrônicos ou de narguilé, exposição ao sol sem proteção, que representa risco importante para o câncer de lábio, e infecção pelo vírus HPV, que está relacionada a alguns casos de câncer de orofaringe quando transmitida por sexo oral.

“A principal forma de prevenção é não fumar nem consumir bebidas alcoólicas. Além disso, a vacina contra HPV também ajuda a prevenir”, afirma o médico.

Diagnóstico

Os cânceres de cabeça e pescoço afetam as partes superiores ou iniciais das vias respiratórias e digestivas, sendo o câncer de boca o mais comum.  Os primeiros sinais de que algo pode estar errado são feridas na boca e garganta que não cicatrizam, dificuldade e dor para engolir e alterações na voz, podendo surgir ainda nódulos no pescoço e sintomas como falta de ar.

“Diante de qualquer lesão no lábio e na cavidade oral que não cicatrize em até 15 dias a orientação é procurar atendimento em uma unidade básica de saúde para avaliação com um profissional cirurgião-dentista, que vai realizar o exame clínico da boca e, se necessário, o encaminhamento para biópsia para estabelecimento do diagnóstico”, destaca a coordenadora de Saúde Bucal e Ações Integradas da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), Jacqueline Silva Santos.  

Segundo ela, as biópsias podem ser realizadas nas unidades básicas de saúde pelo cirurgião-dentista ou nos Centros de Especialidades Odontológicas.

“Além disso, as pessoas com maior risco para desenvolver câncer de boca, como os fumantes e etilistas, devem fazer visitas periódicas ao cirurgião-dentista para um cuidadoso exame de rotina, pois as chances de cura são maiores nas fases iniciais da doença e quando o tratamento é adequado e oportuno”, orienta.

“Os casos considerados urgentes e de alta suspeição para o câncer de boca devem ser encaminhados diretamente às Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) ou aos Centros de Assistência Especializada em Oncologia (Cacon) para confirmação diagnóstica”, explica Jacqueline Silva Santos.

Tratamento

O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento tanto para quem quer parar de fumar, por meio do Programa Nacional de Controle do Tabagismo nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), quanto para quem foi diagnosticado com a doença, por meio das Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) e Centros de Assistência Especializada em Oncologia (Cacon). 

Essas unidades realizaram o tratamento para o câncer de cabeça e pescoço, com atendimento integral e gratuito para todos os cidadãos, por meio de profissionais cirurgiões, oncologistas, radioterapeutas, dentistas, fonoaudiólogos e nutricionistas, visando oferecer o melhor cuidado possível aos pacientes. O tratamento pode variar de acordo com o estágio do câncer, a localização específica e a saúde geral do paciente.

Atualmente, em Minas Gerais, o tratamento do câncer de cabeça e pescoço é realizado em 17 municípios e são responsáveis pela demanda de todo o estado. Nos últimos 12 meses (de maio de 2023 a abril de 2024), foram realizados 8.471 procedimentos relacionados ao câncer de cabeça e pescoço, sendo 1.356 cirurgias, 5.305 quimioterapias e 1.810 radioterapias. 

Confira a localização das Unacon e Cacon no estado.

Referência

O Hospital Alberto Cavalcanti é referência na oncologia com atendimento 100% pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em média, são realizadas 166 consultas e 37 cirurgias por mês na unidade, somente pelos cirurgiões de cabeça e pescoço. Entre elas, estão tireoidectomias (retirada da tireoide), glossectomias (retirada de parte ou toda a língua), laringectomias (retirada das cordas vocais), linfadenectomias cervicais (retirada dos linfonodos do pescoço), além de biópsias para diagnósticos.

O tratamento é realizado por uma equipe multidisciplinar, composta pelos profissionais da cirurgia de cabeça e pescoço, oncologia clínica, fonoaudiologia, enfermagem, serviço social, psicologia, nutrição, terapia ocupacional e fisioterapia. 

“Cada paciente tem seu tratamento definido e realizado, com ou sem cirurgia. Após o tratamento oncológico específico, é feito um acompanhamento regular do paciente na unidade”, informa o médico cirurgião Guilherme de Souza Silva.

As consultas acontecem às segundas, terças, quintas e sextas-feiras e são realizadas por meio de agendamentos, que podem acontecer por encaminhamento das unidades de saúde, pela Comissão Municipal de Oncologia ou por matriciamento (quando o paciente está internado em outra unidade da Rede Fhemig e é diagnosticado ou possui suspeita de câncer). Além disso, o HAC oferece serviço de pronto-socorro 24 horas, todos os dias da semana, para os pacientes.

Europa vai testar novo tratamento contra câncer desenvolvido por brasileiros

O teste de novo tratamento contra câncer de intestino, feito por pesquisadores brasileiros Matheus Henrique Dias e Marcelo Santos da Silva, começa este ano na Europa. - Foto: Fapesp
O teste de novo tratamento contra câncer de intestino, feito por pesquisadores brasileiros Matheus Henrique Dias e Marcelo Santos da Silva, começa este ano na Europa. – Foto: Fapesp

A Europa anunciou que vai testar um novo tratamento de combate ao câncer desenvolvido por dois pesquisadores brasileiros. E isso será até o fim do ano. A pesquisa inova ao superestimular e estressar células tumorais, obrigando que se comportem como células saudáveis. Ela usa um combinado de drogas mais eficiente no “ataque” à doença e teve efeitos positivos.

O estudo foi desenvolvido pelos pesquisadores brasileiros Matheus Henrique Dias, pós-doutorando sênior no Instituto do Câncer dos Países Baixos (NKI), e Marcelo Santos da Silva, professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP). Eles testaram o tratamento em células humanas transferidas para camundongos.

“É como se quiséssemos parar um carro em alta velocidade, mas, em vez de tentar freá-lo, acelerássemos ainda mais até que o motor ficasse superaquecido. E, quando o motor estivesse muito quente, desativaríamos o sistema de resfriamento”, comparou Matheus Henrique Dias.

Testes já feitos

Os testes em pacientes com câncer no intestino serão realizados nos Países Baixos, na Europa.

Os brasileiros combinaram duas drogas que suprimem os tumores. Em vez de inibir a divisão das células tumorais, como nos tratamentos convencionais, o tratamento leva à fragilização delas. Paralelamente, uma outra droga ataca essas células que estão sob estresse.

Antes dessa etapa na Europa, os testes foram feitos em tumores colorretais retirados de biópsias de humanos e implantados em camundongos.

O tratamento com a combinação de drogas inibiu o crescimento dos tumores no intestino dos animais.

Os pesquisadores testaram a combinação em linhagens de adenocarcinoma de pâncreas e colangiocarcinoma (dos tubos que levam a bile pelo fígado), formas mais raras e agressivas de câncer e sem muitas opções de tratamento. Os resultados também foram promissores.

“Nos próximos anos, algumas devem estar no mercado entre as opções de tratamento oncológico, esperamos que uma seja a nossa”, afirmou Matheus.

Ataque certeiro

Os pesquisadores brasileiros publicaram o estudo na revista Cancer Discovery, publicação internacional com muita repercussão na Europa e nos Estados Unidos. Estudos preliminares foram publicados, no passado, na revista Molecular Oncology.

“Descobrimos naquela ocasião que o chamado fator de crescimento de fibroblastos 2 [FGF2], um gene que deveria estimular a proliferação das células, fazia o contrário quando as células eram tumorais: inibia a multiplicação. Era uma observação curiosa, porque era o oposto do que deveria acontecer”, disse Matheus.

No estudo atual, os cientistas mostram que a proliferação das células cancerígenas pode ser impedida, se houver o uso de droga específica para superativá-las a tal ponto que fiquem “estressadas” e fragilizadas, portanto mais sensíveis, o que facilita o “ataque” certeiro.

Duplo ataque

Para Marcelo Silva, o estudo é importante também porque mostra os danos que células cancerígenas podem causar no DNA.

“Quando superativadas, as células tumorais replicam o DNA ainda mais rápido do que o normal. Como não estão preparadas para lidar com essa velocidade de replicação, acabam gerando danos no DNA, o chamado estresse replicativo”, disse Marcelo.

Para atacar as células estressadas pela ação do medicamento específico, os pesquisadores apostaram em inibidores da proteína WEE1, responsável justamente por corrigir danos de DNA nos tumores.

Sem esse mecanismo funcionando, as células tumorais entram em divisão celular antes de terminarem a replicação do DNA. Com isso, morrem no processo.

“O mais interessante é que, para sobreviverem a essa abordagem, as células cancerígenas desativam as vias oncogênicas, passando a se comportar como células saudáveis”, afirmou Matheus.

Paciente supera câncer raro após receber prognóstico de morte

Paciente supera câncer raro após receber prognóstico de morte - Foto: arquivo pessoal
Paciente supera câncer raro após receber prognóstico de morte – Foto: arquivo pessoal

Apesar de vários exames afirmarem que o nódulo que o headhunter Julio Cesar Dantas tinha na garganta era benigno, ele tinha um pressentimento ruim. “Passei três anos tentando descobrir o que era. Fui em três médicos sem que nenhum fechasse o diagnóstico”, conta ele.

Julio Cesar fez até uma biópsia do nódulo. O resultado não apontou o problema que só foi identificado em maio de 2020: ele tinha um linfoma raro, o das células do manto (LCM).

A notícia ruim veio acompanhada de várias outras. Não só se tratava de um tipo de câncer agressivo e considerado incurável, como também era uma sentença de morte. As primeiras previsões eram de que ele viveria apenas mais algumas semanas. Com muita sorte, poucos meses.

O linfoma do manto

O LCM é uma doença rara com uma taxa de sobrevida mediana de apenas 3 a 5 anos. A condição representa apenas 5% dos cerca de 12 mil casos de linfomas não Hodgkin diagnosticados anualmente no Brasil e, embora progrida em geral de forma lenta, ele é resistente ao tratamento e há poucos anos não havia chance de dar mais anos de vida aos pacientes.

Geralmente, os tumores são identificados em homens a partir dos 60 anos. Julio tem apenas 45 anos. O LCM atinge as células do manto, que estão na borda externa dos gânglios linfáticos, medula e baço.

“O linfoma do manto pode aparecer de diversas formas, algumas sintomáticas, outras, não. Ele pode causar um aumento dos gânglios, como uma íngua na garganta; sintomas de anemia; aumento súbito dos linfócitos do sangue ou lesões no intestino que ficam invisíveis por algum tempo”, explica o hematologista Rony Schaffel, especialista em linfoma, professor da UFRJ e médico de Julio.

Paciente supera câncer raro após receber prognóstico de morte - Foto: arquivo pessoal
Paciente supera câncer raro após receber prognóstico de morte – Foto: arquivo pessoal

Uma luta pelo diagnóstico

O caso de Julio Cesar era um dos praticamente assintomáticos. Ele não sentia nada além do caroço em seu pescoço, que era sensível ao toque e tinha cerca de oito centímetros de diâmetro. “Dava para pegar com o dedo”, lembra.

A primeira biópsia que ele fez antes do diagnóstico apontou que se tratava de um tumor benigno, mas ele ainda tinha o pressentimento de que algo a mais estava acontecendo. Julio continuou procurando médicos e foi só quando finalmente passou por um pet scan (um exame de corpo inteiro que identifica tumores distribuídos pelo organismo) que veio o diagnóstico.

“Fui para a consulta com certa tranquilidade. Sabia que tinha um linfoma, mas tinha pesquisado e visto que era um tipo de câncer que se recuperava de forma relativamente fácil. Foi só diante do médico que descobri que meu tumor era de um tipo mais raro e que meu prognóstico era viver apenas mais algumas semanas”, conta.

Ele foi encaminhado para uma consulta com Schaffel para debater o caso. O especialista apontou que não havia, até 2020, nenhum caso de paciente com linfoma do manto que tivesse alcançado a remissão (ausência total de tumores no corpo). “Eu disse para ele que estava determinado a ser o primeiro”, lembra Julio.

Tratamentos para tentar reverter a doença

O tratamento começou com altas doses de quimioterápicos, mas o câncer não estava respondendo bem às tentativas. A principal esperança passou a ser o transplante de medula.

Em fevereiro de 2021, ele passou pelo procedimento usando células do próprio organismo, o chamado transplante autólogo. A técnica injeta células-tronco do próprio paciente de volta na medula dele após uma quimioterapia intensa para recuperar o organismo.

Entretanto, Julio Cesar acabou tendo falência medular, quando o tratamento torna a produção de sangue do organismo insuficiente. Para piorar, o headhunter contraiu no hospital uma infecção por superbactéria (KPC), o que aumentou a quantidade de remédios administrados.

Apesar de todo o esforço, o tratamento não foi suficiente para eliminar o câncer. Uma pequena porção de células do linfoma se preservou no intestino de Julio Cesar e, sobrevivendo a todo o tratamento, elas se tornaram mais resistentes. O tumor passou para o tipo blastoide, uma forma ainda mais resistente de células do LCM que corresponde a cerca de 10% dos casos.

Paciente supera câncer raro após receber prognóstico de morte - Foto: arquivo pessoal
Paciente supera câncer raro após receber prognóstico de morte – Foto: arquivo pessoal

“Esse tipo de linfoma é o mais agressivo que temos. As células do linfoma do manto já são naturalmente mais resistentes ao tratamento: elas ficam muito tempo no organismo e isso as torna difíceis de serem identificadas como ameaças pelas defesas do corpo. Para piorar, as células blastoides são mais fortes e raramente podem ser destruídas”, explica o hematologista Schaffel.

Transformação de fé

Em maio de 2021, quando o câncer de Julio Cesar se transformou, ainda não estavam disponíveis opções de tratamento mais avançadas, como o tratamento com CAR-T que vem sendo testado no Brasil com bons resultados para esse tipo de linfoma.

Como as células tinham se tornado do tipo blastoide menos de três meses após o transplante de medula, os médicos a voltaram a desenganar Julio. As chances de alcançar a remissão eram praticamente nulas.

“Para mim, essa jornada passou a ser sobrenatural. Embora eu tenha sempre sido um homem muito pragmático, o que ocorreu comigo foi um milagre. Acabei desenvolvendo uma sensibilidade muito grande e uma relação muito próxima com Deus. Decidi continuar o tratamento e pedia a cura nas minhas orações. No final da terapia, já conseguia sair da quimio e ir jogar futebol com meus filhos. Era um progresso inexplicável”, lembra.

Contra todos os prognósticos, em janeiro de 2022 os exames apontaram que o tratamento funcionou e não havia mais registro de células cancerígenas no organismo de Julio Cesar.

“Ainda estou em uma jornada que está longe de acabar. Tenho que continuar o acompanhamento, mas a doença me transformou como indivíduo. Hoje, acredito que sirvo a um propósito”, conclui ele.

Para o hematologista que acompanhou o caso de Julio Cesar, o fato de ele ter alcançado a remissão diante de tantos prognósticos negativos é de fato uma raridade que deve ser muito celebrada. A ciência tem trabalhado para que essas histórias de superação sejam cada vez mais comuns.

Em março de 2024, começou a ser vendido no Brasil um remédio específico para tratamento do linfoma de manto, o Jaypirce (pirtobrutinitbe), da farmacêutica Eli Lilly. Ele inibe a produção de uma enzima no organismo que é característica desse tipo de linfoma e atua de forma específica, diminuindo os impactos de quimioterapias mais genéricas que eram feitas anteriormente, como as que Julio Cesar fez.

Estudo alerta que casos de câncer de próstata deve dobrar até 2040

Estudo alerta que casos de câncer de próstata deve dobrar até 2040 – Foto: reprodução

O envelhecimento da população deve impulsionar a incidência de câncer de próstata em todo o mundo nas próximas décadas. De acordo com cientistas, os registros de novos casos da doença devem saltar de 1,4 milhão em 2020 para 2,9 milhões até 2040. No mesmo período, pesquisadores projetam alta de 85% nas mortes pela doença, que vão se aproximar de 700 mil ocorrências por ano.

A estimativa faz parte de novo estudo publicado nesta quinta-feira (04/04) por comissão científica da revista “The Lancet”, desenvolvida com o apoio do Instituto de Pesquisa sobre Câncer do Reino Unido. Segundo os autores, a tendência é que o ritmo de crescimento da doença seja maior em países de baixa e média renda.

“À medida que mais e mais homens ao redor do mundo chegam à meia-idade e à velhice, haverá um aumento inevitável no número de casos de câncer de próstata. Sabemos que esse aumento de casos está chegando, então precisamos começar a planejar e agir agora”, afirma Nick James, principal autor do estudo.

O especialista destaca a importância da detecção precoce e programas de educação para atenuar os impactos da doença. “Isso é especialmente verdadeiro para países de baixa e média renda, que suportarão o peso avassalador dos casos futuros”, acrescenta James.

A comissão do “The Lancet” aponta para a urgência de se ampliar a capacidade de atendimento cirúrgico e de radioterapia nesses países. Hoje, uma das principais barreiras para tratamento de pacientes é a falta de serviços e profissionais especializados. Segundo o estudo, a implementação de centros regionais poderia fornecer a infraestrutura necessária para aumentar o treinamento e melhorar o acesso.

Os principais fatores de risco para o câncer de próstata são idade e histórico familiar. Homens com mais de 50 anos são especialmente afetados, e pessoas com parentes próximos que tiveram a doença também têm risco aumentado.

A comissão também alerta para a necessidade de se aprimorar mecanismos de testagem e conscientização. Além do exame de toque retal, o câncer de próstata pode ser detectado pelo teste PSA, feito a partir de análise de amostra de sangue. A confirmação da doença depende da realização de biópsia.

“Com o câncer de próstata, não podemos esperar que as pessoas se sintam doentes e procurem ajuda -devemos incentivar os testes em aqueles que se sentem bem, mas que têm alto risco de doença para detectar câncer de próstata letal cedo”, diz James.

Câncer de próstata no Brasil

O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que 71.730 novos casos de câncer de próstata serão registrados por ano no Brasil entre 2023 e 2025.
De acordo com o Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde, a doença matou 16.292 pessoas em 2022 – aproximadamente 44 óbitos por dia.

Segundo o médico Maurício Dener Cordeiro, coordenador do departamento de uro-oncologia da Sociedade Brasileira de Urologia, além do envelhecimento, a maior exposição da população a outros fatores de risco favorece a tendência de aumento de casos da doença. “Tabagismo, alcoolismo, obesidade, sedentarismo. Esses fatores, ao longo do tempo, aumentam a incidência de inúmeras neoplasias, inclusive o câncer de próstata”, afirma.

Apesar da disponibilidade do exame PSA e do tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), Cordeiro avalia que o acesso da população ainda é insuficiente, sobretudo em regiões interioranas, onde os centros oncológicos são mais raros.

Um dos efeitos dessa carência é que parte significativa dos casos é descoberta tardiamente. Segundo Cordeiro, que coordena o departamento de uro-oncologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), maior centro de oncologia do país, 60% dos pacientes operados na unidade já têm a doença em estágio avançado, com risco maior de necessitar radioterapia.

Menino de 13 anos é o primeiro no mundo a ser curado de um câncer cerebral mortal

Menino de 13 anos é o primeiro no mundo a ser curado de um câncer cerebral mortal - Foto: redes sociais
Menino de 13 anos é o primeiro no mundo a ser curado de um câncer cerebral mortal – Foto: redes sociais

Lucas Jemeljanova, garoto da Bélgica, tinha seis anos quando foi diagnosticado com glioma intrínseco difuso (DIPG), câncer cerebral raro e agressivo, que mata estatisticamente 98% dos pacientes. Atualmente com 13 anos, Lucas surpreendeu a todos ao descobrir ser a primeira criança no mundo a ser curada e não apresentar vestígios do tumor.

Normalmente espera-se que as crianças com o DIPG vivam um ano após o diagnóstico, estudos recentes apontam que apenas 10% ficam vivas dois anos depois. A radioterapia, em alguns casos, pode retardar a doença agressiva, mas nenhum medicamento até então havia se mostrado eficaz para cura.

Porém, os pais do menino, Credric e Olesja, o levaram à França para ser um dos primeiros inscritos no ensaio Biomede, que testava potenciais novos medicamentos para o DIPG. Lucas respondeu bem ao tratamento e o tumor foi desaparecendo gradativamente. Ainda não se sabe por que Lucas se recuperou tão bem.

“Lucas venceu todas as possibilidades”, disse Jacques Grill, chefe do programa de tumores cerebrais do centro de câncer Gustave Roussy, em Paris. Aproximadamente 300 crianças por ano nos Estados Unidos são diagnosticadas com DIPG, de acordo com o Dana-Faber Cancer Institute. Sete outras crianças no ensaio clínico foram consideradas como “respostas prolongadas” depois de não terem tido recaídas durante três anos após o diagnóstico, mas apenas o tumor de Lucas desapareceu completamente.

A possível razão pela qual algumas crianças respondem aos medicamentos e outras não é provavelmente devido às “particularidades biológicas” dos seus tumores, disse o Dr. Grill.

Tumor fatal

O DIPG apresenta tumor raro e agressivo pelo crescimento rápido, é normalmente encontrado em crianças entre cinco e nove anos. Esse tipo de tumor está localizado na base do cérebro e no topo da coluna, mas não se sabe o que os causa. O tumor pressiona a área do cérebro chamada ponte, que é responsável por uma série de funções corporais críticas, como respiração, sono e pressão arterial. Com o tempo, o tumor afeta os batimentos cardíacos, a respiração, a deglutição, a visão e o equilíbrio.

Hospital Bom Pastor inaugura novo Acelerador Linear que reduz tempo de tratamento para pacientes com câncer em Varginha

Hospital Bom Pastor inaugura novo Acelerador Linear que reduz tempo de tratamento para pacientes com câncer em Varginha — Foto: Prefeitura de Varginha
Hospital Bom Pastor inaugura novo Acelerador Linear que reduz tempo de tratamento para pacientes com câncer em Varginha — Foto: Prefeitura de Varginha

Foi inaugurado na última segunda-feira (19) no Hospital Bom Pastor, em Varginha (MG), o novo Acelerador Linear para tratamento avançado em radioterapia para pacientes com câncer, que promete reduzir pela metade o tempo de espera.

Hoje, existem apenas 16 aceleradores lineares como este no país, instalados em capitais e grandes centros urbanos. Esse será o primeiro equipamento do tipo em operação em Minas Gerais.

O investimento do equipamento é de R$ 10 milhões. Ele foi comprado com parte de recursos do município e a oura metade viabilizado via emenda parlamentar do deputado federal Diego Andrade (PSD).

O equipamento estará disponível para atender pacientes oncológicos de 52 municípios, com uma população de aproximadamente 900 mil habitantes.

“Irá beneficiar nossos 52 municípios atendidos aqui no Hospital Bom Pastor, o que dá mais ou menos em torno de 900 mil pessoas que passam em atendimento pela oncologia do nosso hospital. O equipamento vem realmente para otimizar o atendimento, melhorar a qualidade de atendimento e diminuir cada vez mais a fila das pessoas que sofrem com essa patologia tão grave que é o câncer”, disse o secretário de Saúde de Varginha, Adrian Nogueira.

Hospital Bom Pastor inaugura novo Acelerador Linear que reduz tempo de tratamento para pacientes com câncer em Varginha — Foto: Prefeitura de Varginha
Hospital Bom Pastor inaugura novo Acelerador Linear que reduz tempo de tratamento para pacientes com câncer em Varginha — Foto: Prefeitura de Varginha

O prefeito de Varginha, Vérdi Lúcio Melo (Avante), comemorou a aquisição do novo equipamento.

“É um equipamento que há muito tempo nos reivindicamos. Para ser ter uma ideia, o aparelho antigo a gente fazia a radioterapia para os pacientes da cidade à noite, para dar oportunidade para os de fora fazer durante o dia, era um sofrimento danado, uma morosidade muito grande, quando dava defeito naquele equipamento ficava 10, 15 dias parado e interrompia o tratamento”, disse o prefeito.

Com o equipamento, a capacidade de atendimento passa de 100 para 150 pacientes por dia.

“Nós vamos conseguir atender o paciente de uma forma mais confortável, menos invasiva e com uma dosagem menor em menor tempo. O paciente que ficava aqui tratando 39 dias, a gente vai conseguir reduzir para 20 dias em alguns casos e nos casos mais excepcionais até para sete dias. Hoje a gente atende uma região com 52 municípios, são aproximadamente 100 pacientes atendidos por dia, porém a gente estende esse horário até a madrugada. Com esse novo equipamento, nós vamos conseguir aproximadamente 150 pacientes por dia em horário comercial, até as 18 horas”, completou o coordenador da oncologia, Leandro Sarto.

Rei Charles III não acredita em quimio e prefere tratar câncer com “poções”

Rei Charles III não acredita em quimio e prefere tratar câncer com “poções” – Foto: reprodução

O Rei Charles III não acredita em quimioterapia e quer tratar seu câncer com “poções”. A alegação parte de Tom Bower, comentarista político inglês especializado na Família Real Britânica, em entrevista ao site GB News. Ele disse que o monarca é grande entusiasta de “medicinas alternativas”.

O diagnóstico de Charles III foi revelado ao mundo na última segunda-feira, dia 4 de janeiro. O Palácio de Buckingham não expôs, no entanto, qual forma de câncer foi diagnosticada.

“O Rei é grande fã e defensor de medicinas alternativas”, disse Bower. “Ele não tem planos para quimioterapia e sempre argumentou contra [o tratamento quimioterápico]”.

“Ele tem grande devoção por ervas medicinais e poções e outras coisas do tipo”, relatou Bower. “Ele está sendo aconselhado por Michael Dickson, diretor do instituto de medicina alternativa do rei. Ele já foi desacreditado por muitos, mas o rei é fiel a ele. Ele não acredita [em quimioterapia], o que acho um risco”.

Os assessores da Família Real Britânica não se pronunciaram sobre o relato de Bower. Ontem, dia 7 de fevereiro, Charles III fez seu primeiro pronunciamento público em seguida ao seu diagnóstico. Sem entrar no mérito de sua doença, ele parabenizou Granada, no Caribe, pelos 50 anos de sua independência.

Charles foi visitado recentemente por seu caçula, Príncipe Harry. O marido da atriz e Duquesa Meghan Markle fez uma viagem rápida ao Reino Unido para confortar o pai em seguida ao seu diagnóstico.

Harry ocupa atualmente a quinta posição na linha sucessória ao trono britânico. A primeira posição é do Príncipe William. Entre os dois irmãos estão os três filhos do primogênito de Charles III: Príncipe George (10 anos), Princesa Charlotte (8 anos) e Príncipe Louis (5 anos).

Farmacêutica anuncia investimentos milionário para acelerar vacinas contra câncer

Farmacêutica anuncia investimentos milionário para acelerar vacinas contra câncer´- Foto: divulgação

A farmacêutica Moderna anunciou, na última segunda-feira (11), um acordo com a criadora de terapias anti-câncer Immatics para acelerar o desenvolvimento de vacinas contra o câncer. A empresa fará um investimento imediato de 120 milhões de dólares na Immatics para potencializar as pesquisas neste campo.

As empresas trabalharão juntas combinando duas técnicas avançadas que cada uma delas domina. A primeira é a tecnologia da vacina mRNA – que foi usada pela Moderna para lançar seu imunizante contra a Covid – e a segunda é a imunoterapia, tratamento que vem se destacando no combate ao câncer.

A imunoterapia trabalha com o melhoramento em laboratório das células de defesa do próprio paciente para que elas se tornem capazes de reconhecer e aniquilar células cancerígenas. A técnica é semelhante ao CAR-T, que está sendo testada experimentalmente e também é considerada uma aposta no combate à doença.

Além do desenvolvimento de vacinas contra o câncer, a Moderna e a Immatics vão atuar em conjunto para elaborar terapias que melhorem os remédios imunoterápicos.

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