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Liberação do plantio de cannabis divide bancada ruralista no Congresso

Liberação do plantio de cannabis divide bancada ruralista no Congresso - Foto: reprodução
Liberação do plantio de cannabis divide bancada ruralista no Congresso – Foto: reprodução

A liberação do cultivo, para fins medicinais, veterinários, e industriais, da Cannabis sativa, planta que também é utilizada para produzir a maconha, ainda é um tema que divide opiniões dentro da bancada ruralista do Congresso Nacional.

Defensores da pauta miram o agro como um possível aliado na tramitação do projeto de lei que legaliza o plantio da espécie para fins não-recreativos. O presidente da Associação Brasileira da Cannabis e do Cânhamo Industrial (ABCCI), Luís Maurício, baixista da banda Natiruts, vê o grupo como um potencial aliado.

“É um trabalho a médio e longo prazo. Tem que ser feito a passos de formiga, de gabinete em gabinete. […] Convencer a bancada ruralista e mostrar que pode ser uma grande ferramenta auxiliar na produção da soja”, diz Luís Maurício.

A proposta foi aprovada por uma comissão especial em caráter terminativo, sem necessidade de passar pelo plenário. Porém, o deputado Diego Garcia (Republicanos-PR) apresentou um requerimento para que o plenário da Câmara decidisse se o projeto passaria por nova votação antes de ir para a Casa Alta. Caberia ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), prosseguir com o processo, o que não aconteceu.

O projeto regulamenta a produção do cânhamo, uma variedade da cannabis que pode ser utilizada na fabricação de roupas, sapatos, alimentos, itens de higiene, cosméticos, entre outros.

Parte dos deputados acredita que há um potencial de quase R$ 5 bilhões a ser explorado caso o país mude as regras atuais. Outro argumento é que a cannabis auxilia a recuperar o solo na entressafra de grandes monoculturas, como soja e feijão.

Já para boa parte dos ruralistas, além da possibilidade de desvio da planta para fins ilícitos, a adoção do cânhamo não traria ganhos consideráveis para o agronegócio, que já é diverso e em 2023, teve um superávit acumulado de quase US$ 150 bilhões.

Para o presidente da ABCCI, a maioria dos deputados e senadores ainda temem uma reação negativa do eleitorado ao eventualmente voltarem a favor do plantio de cannabis.

“O Legislativo tem muita preocupação com o eleitorado. Os legisladores têm medo do impacto que vai ter na população se, por exemplo, votar a favor, mesmo para fins medicinais. As pessoas têm que sair do armário, nesse sentido de colocar a cara, mostrar os números, os efeitos, as comprovações”, aponta.

Deputados acreditam que o ano de 2024 é pouco propício para a aprovação de projetos liberalizantes em relação à cannabis. Além do perfil conservador do Congresso, a meta de Arthur Lira é eleger o seu sucessor na eleição à presidência da Câmara, em fevereiro de 2025. Para isso, faz questão do apoio da bancada evangélica e não deve comprar grandes brigas com o grupo.

Homem com sequelas de acidente e depressão poderá cultivar cannabis sativa em MG

Foto: Unsplash

Um homem com sequelas de um grave acidente de moto e problemas de saúde mental conseguiu aval preliminar na Justiça para cultivar cannabis sativa para fins medicinais. A decisão do desembargador Henrique Abi-Ackel Torres, da 8ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, funciona em habeas corpus preventivo, e deve ainda ser apreciada pela turma para julgamento do mérito.

O homem sofreu um acidente de moto em 2013, no qual quebrou o braço e o fêmur, e, segundo ele alega, o faz conviver com sequelas que afetam sua saúde física e mental até hoje. Além das limitações de movimento, o paciente informou reflexos na sua saúde pessoal e social, uma vez que ele passou a apresentar quadro de ansiedade generalizada, depressão e dores crônicas.

Segundo o seu relato, o homem sente melhora no seu bem-estar e disposição quando faz uso do óleo extraído da planta, o que não ocorre com o tratamento convencional. Ele possui autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para importar o medicamento, mas não tem condições de bancar o custo da importação ou até mesmo de comprar as opções nacionais. Por isso, pediu permissão para plantar a cannabis sativa.

O desembargador concedeu ordem para o cultivo doméstico com finalidade terapêutica da cannabis por entender que o paciente precisa do tratamento para ter uma boa qualidade de vida.

O magistrado fundamentou que o direito à saúde tem aplicabilidade imediata. “Quanto ao plantio caseiro para uso individual e finalidade terapêutica (da cannabis), deve-se analisar a questão, como dito, não apenas pela incidência dos tipos penais identificados na Lei, mas igualmente pelo que dispõe a própria Constituição da República (CRFB/88), que tem como fundamento básico a dignidade humana (art. 1º, III), e pelos direitos fundamentais à saúde, liberdade e integridade física ora em jogo”, escreveu.

Além disso, o homem apresentou um certificado da Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis Sativa que o habilita a realizar o plantio da erva na quantidade necessária e fazer a extração do óleo, de maneira artesanal.

O processo tramita em segredo de justiça.

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