
Um catador de recicláveis de Campo Belo (MG) que decidiu devolver um aparelho de celular para o proprietário após pedir a ajuda a um pastor, ganhou uma recompensa inusitada pelo gesto nobre. Do dono do aparelho, ele não ganhou nem um “obrigado”, mas sensibilizados com a história, moradores se uniram e realizaram um desejo: dar uma boneca e promover uma festa de aniversário para a filha dele, de apenas 10 anos.
Tudo começou quando o catador Fernando Henrique Soares, de 50 anos, caminhava pelas ruas da cidade em busca de recicláveis em mais um dia de trabalho. Perto do campo do Botafogo, ele encontrou o aparelho, um Iphone e um cartão bancário.

O trabalhador, que tem problemas auditivos e ainda por cima sofre de um câncer e faz tratamentos como quimioterapia e hemodiálise, anda pela cidade com seu carrinho recolhendo recicláveis para viver. Separado, mora em uma casa humilde e tem a guarda compartilhada de dois filhos, uma menina de 10 e um menino de 11 anos. É do trabalho com os recicláveis que também tira o sustento dos filhos.
Depois de guardar o celular, ele decidiu procurar o pastor da Comunidade Cristã de Campo Belo, Sérgio Luiz Silva, para pedir ajuda para localizar o dono. Uma ligação do pastor para a jornalista Kelly Cristina Martins, do Diário de Campo Belo, deu vida à história.
“Ele entrou em contato, deu o endereço do ‘seo’ Fernando e eu fui até a casa dele. Ele contou a história dele, disse que queria entregar para o dono e publiquei a matéria. O dono apareceu através de um outro contato, que me pediu o endereço e depois ele foi lá, pegou o aparelho e foi embora”, contou a jornalista ao G1.

Antes do dono aparecer, outras pessoas chegaram a procurar o catador, mas ele exigiu que a pessoa colocasse a senha e mostrasse que o telefone realmente fosse dela.
Pouco tempo depois, o verdadeiro proprietário apareceu. Ele pegou o celular, colocou a senha correta e foi embora. Não houve recompensa, nem um “obrigado”. Ao falar novamente com o pastor, o catador avisou que o aparelho tinha sido entregue.
Questionado se havia ganhado alguma recompensa, o catador disse que não. Para o pastor, acabou confidenciando que tinha essa esperança, já que a filha de 10 anos havia acabado de fazer aniversário e queria uma boneca.
Mais uma vez o pastor ligou para a jornalista, que resolveu postar a história em grupos de leitores do jornal. O objetivo: realizar o sonho da menina Maria Fernanda. A história começou a mudar.
“Inesperadamente leitores e seguidores do diário começaram a mandar mensagens no privado e nos grupos. Um dizia que dava o bolo, o outro o salgado, o outro o refrigerante, o arco do bolo, o balão. Um resolveu fazer uma camiseta com o nome dela, o outro decidiu comprar um short para ela usar no dia da festa. A dona de um salão ofereceu um ‘Dia de Princesa’ para Maria Fernanda”, contou a jornalista Kelly.

Da noite para o dia, Maria Fernanda, que pediu ao pai catador uma boneca, tinha uma festa. Junto com amigos, a jornalista passou a arrecadar as doações.
“Peguei a Maria Fernanda, levei ela para o salão e de lá levei ela para a festa. A mãe exigiu que fosse na casa dela.
Separado da mãe da menina, ‘seo’ Fernando não pôde participar da festa. Mas a verdadeira recompensa que ele desejava, ele já tinha ganhado.
Para o pastor Sérgio, a atitude do catador não foi novidade. A honestidade do homem já tinha chamado a atenção dele anteriormente quando o ajudou com cestas básicas e outros alimentos.
Fonte: G1.