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”Se aliviar a dor talvez eu reconsidere a eutanásia”, diz mineira com pior dor do mundo

''Se aliviar a dor talvez eu reconsidere a eutanásia'', diz mineira com pior dor do mundo - Foto: redes sociais
”Se aliviar a dor talvez eu reconsidere a eutanásia”, diz mineira com pior dor do mundo – Foto: redes sociais

Carolina Arruda, de 27 anos, vai testar mais dois procedimentos médicos para tratar a neuralgia do trigêmeo, disfunção que causa uma dor crônica considerada a pior do mundo. Ainda neste mês, a jovem vai a uma consulta na Clínica da Dor da Santa Casa de Alfenas, em Minas Gerais, e depois passará por atendimento com o neurologista Wellerson Sabat e com uma equipe da Argentina para testar uma nova técnica, possivelmente cirúrgica.

“Se der certo e aliviar a dor, talvez eu reconsidere a eutanásia. Tudo é válido para minimizar a dor. Mesmo que eu tenha decidido optar pela eutanásia, ainda terei que passar por um processo burocrático e demorado”, disse Carolina, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.

“Eu vou tentar dependendo da margem de sucesso. Tudo vai depender do que eles me apresentarem, porque se for uma terapia que não tem muitas chances de sucesso, não tem muitos estudos, eu não vou me arriscar e me submeter a mais tipos de cirurgia. Então, eu tenho que avaliar bem a proposta, a condição. O médico ainda tem que me passar as informações”, acrescentou a jovem.

Carolina lançou um campanha de arrecadação online para poder arcar com os custos de uma eutanásia na instituição Dignitas, na Suíça, que é um dos poucos locais do mundo que oferece essa opção para pessoas com doenças incuráveis e debilitantes. Desde o lançamento da vaquinha, no início deste mês, a mineira já arrecadou mais de R$ 120 mil — a meta é conseguir R$ 150 mil.

A jovem foi diagnosticada com a neuralgia do trigêmeo há 11 anos. Desde então, ela passou por diversos tratamentos e cirurgias na tentativa de encontrar alívio para as dores que sente. “Já me submeti a quatro cirurgias – descompressão microvascular, rizotomia por balão e duas neurolises por fenolização. Além disso, tentei inúmeros tratamentos farmacológicos, incluindo anticonvulsivantes, analgésicos opióides e antidepressivos. Infelizmente, nenhum desses procedimentos trouxe o alívio esperado e, atualmente, minha condição é considerada refratária”, explica.

Carolina descreve as dores que sente a choques elétricos equivalentes ao triplo da carga de uma rede 220 volts. “Eles atravessam meu rosto constantemente, sem aviso e sem trégua. Infelizmente, a minha situação é ainda mais complicada porque é bilateral – ou seja, afeta ambos os lados do meu rosto”, cita a jovem.”Viver com dor crônica severa e incessante impacta todos os aspectos da minha vida. A dor é tão intensa que torna impossível realizar tarefas diárias simples, manter relacionamentos ou mesmo encontrar prazer em atividades que antes eram parte da minha rotina. Cada dia é uma batalha constante e exaustiva. A esperança de uma vida sem dor tem se tornado cada vez mais distante, e a qualidade de vida, praticamente inexistente”, emenda a mineira.

“Viver com dor crônica severa e incessante impacta todos os aspectos da minha vida. A dor é tão intensa que torna impossível realizar tarefas diárias simples, manter relacionamentos ou mesmo encontrar prazer em atividades que antes eram parte da minha rotina. Cada dia é uma batalha constante e exaustiva. A esperança de uma vida sem dor tem se tornado cada vez mais distante, e a qualidade de vida, praticamente inexistente”, emenda a mineira.

Ao divulgar a vaquinha online, Carolina afirmou que a eutanásia seria uma forma dela encerrar do sofrimento que ela sente por causa das fortes dores de maneira digna. “Esta é uma decisão profundamente pessoal e dolorosa, mas acredito ser a melhor solução para acabar com o sofrimento interminável que enfrento diariamente”, pontuou. (Folha de São Paulo)

Casal morre de mãos dadas durante eutanásia dupla

Dries van Agt e a esposa, Eugenie, eram inseparáveis — Foto: NIEK TÖNISSEN / RADBOUD UNIVERSITY
Dries van Agt e a esposa, Eugenie, eram inseparáveis — Foto: NIEK TÖNISSEN / RADBOUD UNIVERSITY

A organização The Rights Forum anunciou a morte do seu fundador, o ex-primeiro-ministro holandês Dries van Agt, que ocorreu por eutanásia ao mesmo tempo que a da sua esposa, Eugenie.

O casal, ambos de 93 anos, morreu “junto e de mãos dadas” no último dia 5 de fevereiro, segundo o The Rights Forum, após optar pela chamada “eutanásia dupla” devido à deterioração progressiva de sua saúde.

Van Agt, um político influente de longa data, sofreu um derrame em 2019, do qual nunca conseguiu se recuperar totalmente, e a saúde de sua esposa, Eugenie, também havia piorado.

A eutanásia e o suicídio assistido são permitidos desde 2002 na Holanda. A eutanásia dupla é uma tendência recente que vem crescendo no país, onde alguns casais já conseguiram realizar o desejo de morrer juntos, geralmente por meio de uma dose letal de um remédio.

Van Agt foi nomeado embaixador da União Europeia no Japão em 1987 — Foto: GETTY IMAGES
Van Agt foi nomeado embaixador da União Europeia no Japão em 1987 — Foto: GETTY IMAGES

Sete décadas juntos

Andreas (Dries) van Agt e Eugenie Krekelberg estavam juntos havia mais de 70 anos, desde que se conheceram como estudantes de arte em Nijmegen, no leste da Holanda. Eles se casaram pouco tempo depois e se tornaram inseparáveis ​​desde então.

Nascido em 1931, Dries van Agt foi criado num ambiente católico e, depois de se formar em Direito e trabalhar como advogado nos Ministérios da Agricultura e Pesca e da Justiça, entrou para a carreira política.

Ele foi ministro da Justiça (1971-1977) e das Relações Exteriores (1982). Exerceu o cargo de primeiro-ministro em três gabinetes do governo holandês entre 1977 e 1982. Na sequência, foi nomeado embaixador da União Europeia no Japão e nos Estados Unidos.

Eugenie acompanhou o marido e o aconselhou ao longo de sua extensa carreira política — sempre aparecia ao seu lado em eventos locais e internacionais em que ambos participavam como figuras públicas.

Nas fotos, eles aparecem cumprimentando o povo, votando juntos nas eleições e demonstrando abertamente seu carinho um pelo outro.

Eugenie também esteve ao lado do marido quando ele fundou o The Rights Forum, em 2009, uma organização dedicada à busca de uma solução pacífica entre palestinos e israelenses.

Van Agt escreveu inúmeros artigos e dois livros sobre o que considerava a “injustiça” em que vive o povo palestino.

Em 2019, o ex-primeiro-ministro sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), do qual se recuperou parcialmente.

Embora tenha continuado tratando da questão palestina, escreveu o The Rights Forum, ele se sentiu frustrado porque “sua criatividade, concentração e capacidade de fazer discursos haviam sido afetadas”.

A saúde de sua companheira, Eugenie, também havia piorado e, como tinham certeza de que não queriam viver um sem o outro, ambos tomaram a decisão de se submeterem juntos à eutanásia, aos 93 anos, no dia 5 de fevereiro.

O atual primeiro-ministro interino da Holanda, Mark Rutte, prestou uma comovente homenagem a Van Agt, a quem chamou de “tataravô político”. A família real holandesa destacou a sua “personalidade marcante e estilo rebuscado”.

O casal, que deixa três filhos, foi sepultado em Nijmegen, cidade onde os dois se conheceram.

Van Agt é descrito como alguém que tinha uma personalidade marcante — Foto: GETTY IMAGES
Van Agt é descrito como alguém que tinha uma personalidade marcante — Foto: GETTY IMAGES

Eutanásia na Holanda

O site oficial do Comitê de Análise da Eutanásia explica que quando um médico atende à solicitação de um paciente para cessar sua vida, isso é chamado de eutanásia.

Se o médico ajudar o paciente a cessar sua própria vida, o procedimento é conhecido como suicídio assistido.

Ambas as práticas são permitidas na Holanda desde 2002, mas são estritamente controladas por regulamentações previstas em lei.

Os pedidos de eutanásia surgem frequentemente de pacientes que vivenciam um sofrimento insuportável e sem perspectivas de melhora.

A solicitação deve ser feita com toda seriedade e convicção. Os pacientes não têm o direito absoluto à eutanásia, nem os médicos têm o dever absoluto de praticá-la.

A eutanásia dupla é uma modalidade recente, mas está se tornando mais comum.

Foram realizadas quase 9 mil eutanásias individuais na Holanda em 2022, e 29 casais se submeteram ao procedimento no mesmo ano.

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