Jornal Folha Regional

Zema perde prazo, e municípios podem ficar sem R$ 1,1 bilhão do Fundeb

O governo de Minas Gerais perdeu o prazo de dois anos para atualizar a legislação estadual conforme as regras do novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais de Educação (Fundeb), aprovado pelo Congresso em agosto de 2020. A Associação Mineira de Municípios (AMM) estima que as 853 cidades deixem de receber cerca de R$ 1,1 bilhão no ano que vem porque o governo não alterou a legislação.

A Emenda Constitucional 108/2020, que criou o novo Fundeb, instituiu o chamado ICMS Educacional. O percentual do “critério educação” para repasse aos municípios subiu de 2% para, no mínimo, 10%, e o parâmetro passou a ser a melhoria dos indicadores de aprendizagem dos estudantes.

Na prática, a mudança faz com que as prefeituras com melhores índices de ensino recebam uma fatia maior do ICMS, o que funciona como um mecanismo de incentivo para que os municípios melhorem a qualidade da educação ofertada.

Como Minas não aprovou o aumento do ICMS Educacional para 10% nem a mudança do critério para a melhoria da aprendizagem, os municípios mineiros não poderão disputar o recurso do governo federal da complementação do Valor Aluno Ano por Resultados (VAAR) com as prefeituras de outros Estados.

Dos 26 Estados brasileiros e o Distrito Federal, apenas Minas e o Rio de Janeiro não aprovaram as mudanças necessárias. Atualmente, o governo mineiro repassa 25% do que arrecada com o ICMS para os municípios. O cálculo de quanto cada prefeitura recebe leva em conta uma série de fatores, mas 2% devem ser transferidos com base no “critério educação”, que considera o número de matrículas em relação à capacidade de atendimento da rede municipal de ensino de cada cidade.

Além de não aumentar o incentivo para que as prefeituras melhorem o aprendizado dos alunos da educação básica – educação infantil, ensino fundamental e ensino médio –, a ausência de uma nova lei estadual fará com que os municípios mineiros deixem de receber parte da complementação do Fundeb.

O presidente da AMM e prefeito de Coronel Fabriciano, Marcos Vinícius Bizarro (sem partido), enviou ofício à Secretaria do Estado de Educação (SEE) cobrando a aprovação do aumento do ICMS Educacional para 10% e a mudança do critério para melhoria do aprendizado. O ofício também acusa o governo de Minas de improbidade administrativa.

“Além do descumprimento do dispositivo constitucional pelo Estado, há evidente ocorrência de improbidade administrativa por omissão do agente público, deixando de praticar o ato, causando danos à administração pública e à população dos municípios”, argumenta o presidente da AMM no documento.

Para Bizarro, “a situação preocupa os municípios, pois, com essa insegurança jurídica, fica imprevisível a forma correta de aplicação dos recursos do ICMS, o que pode inviabilizar juridicamente as administrações”. 

A preocupação do presidente da AMM é com os “severos índices de evasão” e o déficit de aprendizagem causado pela pandemia. Bizarro lembrou que o Ministério da Educação deu um ultimato até 30 de novembro para que Minas apresentasse a legislação do ICMS. Apesar do prazo, duas propostas na ALMG sobre o assunto sequer passaram por comissões temáticas.

Votação de projetos só no ano que vem

O prazo para aprovação do novo Fundeb venceu e as adequações necessárias ainda não foram votadas pela Assembleia Legislativa. Dois projetos, propostos pelos deputados Zé Guilherme (PP) e Beatriz Cerqueira (PT), aguardam para serem analisados nas comissões temáticas. 

No último dia 20, as propostas foram anexadas, mas ainda não começaram a tramitar nas comissões. Agora, só a partir de fevereiro, na nova legislatura, já que, na sexta-feira, foi realizada a última sessão do ano na Casa. 

O governo de Minas, por meio de nota, informou que apoia o PL 3.903/2022, do deputado Zé Guilherme (PP). “O Executivo acompanha a tramitação do projeto, já está em contato com o Tribunal de Contas do Estado e, assim que for aprovado, o assunto será deliberado com os municípios”, diz a nota.

A promotora de Justiça Ana Carolina Coelho, que coordena o grupo de Defesa da Educação do Ministério Público de Minas Gerais, afirma que diversos municípios estão se movimentando para atender às exigências para concorrer à complementação do Valor Aluno Ano por Resultados (VAAR). Porém, ela pontua que a não atualização da lei estadual pode desestimular as prefeituras, já que esta também é uma das condições para receber o recurso.

“Temos que pensar o ICMS Educacional como uma oportunidade porque é uma discussão de receita (para os municípios). Não podemos abrir mão dessa oportunidade principalmente no momento em que nós vivemos, um pós-pandemia de déficit severo de aprendizagem e índices alarmantes de evasão escolar”, disse.

Governo de Minas nega o rateio do Fundeb aos profissionais da educação, embora admita recursos em caixa da ordem de R$2,5 bi

Foto: Studium

Durante reunião realizada na última quarta-feira (14), na Cidade Administrativa em Belo Horizonte, com representantes das Secretarias de Estado do Planejamento e Gestão e de Governo, o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE) fez o debate sobre a viabilidade, necessidade e legalidade do pagamento do rateio dos recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). “Se há recursos, é preciso ter o rateio”, reforçou a direção estadual do Sindicato.

Para o Sind-UTE, não há outra justificativa para essa recusa a não ser ´falta de vontade política´. Esse raciocínio sustenta-se ao considerarmos que o governo não negou a existência dos recursos nos diversos debates sobre o tema. Tivemos a pauta discutida em audiência pública da Comissão de Educação, nas atividades do Assembleia Fiscaliza, nas reuniões de negociação com o sindicato, especialmente, na ocorrida nesta manhã. Em nenhum desses momentos os dados apresentados pelo sindicato foram refutados pelo governo. São mais de R$2,5 bilhões em conta, dinheiro da educação, que por lei deve ser aplicado em politicas de valorização da categoria.

Desvalorização e desemprego

Numa cobrança propositiva e fundamentada na falta de valorização da categoria, do não reconhecimento do Piso Salarial por esse governo, do não reajuste referentes ao Piso recomendados pelo MEC, o Sind-UTE fez ainda a denúncia do quanto a categoria tem sido assolada pelo desemprego e a falta de perspectiva nos últimos anos, tendo sido constantemente atingida por atos que refletem opções políticas do governo que, mesmo tendo dinheiro em caixa da educação, prefere não reconhecer os direitos de uma categoria empobrecida.

Negativa do governo ataca o direito de cada trabalhador/a da educação receber quase R$9 mil a título de rateio

Mesmo diante dos dados e argumentos, exaustivamente, comprovados pelo Sindicato, a Secretária de Planejamento e Gestão, Luiza Barreto, reafirmou que não haverá o rateio do Fundeb e que o governo deixará parte dos recursos (que deveriam servir ao pagamento do rateio), para execução no primeiro quadrimestre do ano.

Considerando a dimensão estruturante e crucial do Fundeb para o desenvolvimento das políticas de valorização dos profissionais da educação, nos manteremos firmes nessa luta. Afinal, se o que falta é vontade política, vamos precisar de muita mobilização e coragem para enfrentar esse governo que, definitivamente, elegeu nossa categoria como inimiga e tem demostrado isso em cada ato, em cada decisão, em cada política que promove.

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