Jornal Folha Regional

Minas confirma caso de gripe aviária e governo decreta emergência sanitária

Minas confirma caso de gripe aviária e governo decreta emergência sanitária - Foto: reprodução
Minas confirma caso de gripe aviária e governo decreta emergência sanitária – Foto: reprodução

Minas Gerais confirmou, nesta terça-feira (27), um foco de gripe aviária. A identificação ocorreu em três aves ornamentais, em um sítio de Mateus Leme, na região metropolitana de Belo Horizonte. Em função da identificação, o governador Romeu Zema (Novo) decretou emergência sanitária, em edição especial do Diário Oficial. 

“As medidas de monitoramento, as ações preventivas e a análise de riscos da IAAP serão realizadas em cooperação com o setor privado e o poder público, observados os princípios e as diretrizes estabelecidos pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, bem como os protocolos sanitários estabelecidos na legislação vigente”, diz o texto publicado pelo chefe do Executivo. O decreto tem validade de 180 dias. 

De acordo com o painel de monitoramento de Síndrome Respiratória e Nervosa das Aves do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o foco se deu em uma espécie de cisne negro. Em vídeo enviado à imprensa, o vice-governador, Mateus Simões (Novo), disse que o contágio aconteceu pela passagem de aves migratórias.

“É um risco que infelizmente acontece. E repito, todas as providências estão sendo tomadas. Todos os recursos físicos, estruturais e financeiros estão já à disposição das nossas autoridades sanitárias e não há qualquer risco no consumo de carne ou de ovos”, detalhou Simões. 

À reportagem, o prefeito de Mateus Leme, Renílton Coelho (Republicanos), informou que o vírus foi identificado além do cisne negro, em dois gansos. As suspeitas surgiram no dia 16 de maio, quando os animais foram encontrados mortos e recolhidos para exames laboratoriais. O Executivo municipal monitora, agora, os humanos que vivem no sítio e que podem ter tido algum contato com os animais infectados. 

Esse monitoramento será feito por dez dias, para observar se houve manifestação de sintomas. “Todas as medidas sanitárias já estão sendo tomadas, quero tranquilizar a população que não existe risco comunitário”, disse Coelho. O prefeito reforçou que não há risco às granjas do município e que, do ponto de vista econômico, não há impactos à cidade. “É uma atividade que não tem muita relevância econômica aqui”, completou. 

Medidas sanitárias

O caso não é o primeiro registrado em Minas. Em 2023, houve uma confirmação em um pato de vida livre, também diagnosticado com Influenza Viária de Baixa Patogenicidade (H9N2). Desta vez, trata-se de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP). 

Em nota, o Executivo informou que as medidas integram o Plano de Contingência da Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP), firmado entre União, Estados e setor produtivo. O documento foi editado em 2022, quando surgiu o primeiro foco da doença na América do Sul. 

“Até o momento, não há qualquer comprometimento da produção avícola do estado”, frisou o governo. Conforme o Executivo, as ações de monitoramento e prevenção incluem medidas de biosseguridade das granjas comerciais, políticas de educação sanitária e vigilância nas propriedades classificadas como risco, cadastro e vistoria em criatórios de subsistência, além de ações sanitárias em eventuais áreas de foco da doença.

“A transmissão das aves para os humanos não é comum, mas pode ocorrer em pessoas expostas a uma grande carga viral ou que estejam com baixa imunidade. A Influenza Aviária não é transmitida pelos alimentos, desde que esses sejam bem cozidos”, completou o governo mineiro. 

Economia

A reportagem procurou a Associação dos Avicultores de Minas Gerais (Avimig) para comentar sobre a identificação do foco da doença no Estado. A entidade, no entanto, afirmou que os posicionamentos serão esclarecidas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária e por comunicados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). 

“Essa decisão visa garantir que as informações sejam repassadas de forma mais precisa e oficial, já que esses órgãos estão diretamente à frente da situação”, disse o diretor técnico da Avimig, Gustavo Ribeiro. A ABPA, por sua vez, em comunicado publicado na semana passada, reforçou que não há risco de contaminação pelo consumo de carne de frango e ovos.

“O preparo correto é o principal fator de segurança alimentar para qualquer situação sobre os alimentos”, diz a ABPA, que também orienta a população a seguir medidas no preparo e manejo, como cozinhar completamente carnes e ovos, evitar o consumo de alimentos crus ou mal cozidos e higienizar as mãos e utensílios após o preparo dos alimentos.

“Com base em evidências científicas e nas recomendações das autoridades sanitárias nacionais e internacionais, o consumo de carne de frango e ovos no Brasil é, sempre foi e permanecerá seguro”, assegurou a entidade. 

Um estudo da Fundação João Pinheiro (FJP) calculou que Minas Gerais pode perder quase R$ 1 bilhão em receitas com a queda nas exportações de carnes de frango em função do foco de gripe aviária identificado no Rio Grande do Sul na semana passada.

A pesquisa projetou uma queda entre 8,7% a 27% nas comercializações ao exterior dos pacotes de carnes de frango produzidos no estado. O estudo foi feito considerando a manutenção do cenário por um ano e sem levar em consideração o caso em Minas.

A doença 

A gripe aviária voltou ao foco no Brasil nas últimas semanas, com a confirmação de um foco da doença em uma granja comercial de Montenegro, no Rio Grande do Sul. O estado gaúcho ainda tem outro foco confirmado em um zoológico de Sapucaia do Sul. 

Com as confirmações, o Brasil sofreu embargos comerciais de mais de 60 países, como China e integrantes da União Europeia, que suspenderam as exportações brasileiras de carnes de frango. O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) informou que finalizou, na semana passada, a desinfecção da granja comercial de Montenegro onde o primeiro foco foi identificado. 

Após esse processo, a União pode declarar o país como área livre da gripe aviária em 28 dias, desde que não haja novos focos da doença.

Mercado

O Brasil é o maior exportador de carnes de frango do mundo. A China é o principal destino das exportações do Brasil. De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), do total de 5,16 milhões de toneladas de carnes de frango enviadas a outros países em 2024, mais de 562 mil toneladas, 17,65% do total, desembarcaram na China.

Em seguida, no segundo lugar no ranking de compradores, estão os Emirados Árabes Unidos, que adquiriram mais de 455 mil toneladas. A União Europeia, que aplicou embargo à carne de frango brasileira, é a sétima maior compradora, com 231.890 toneladas. As transações brasileiras ao exterior no ano passado somaram US$ 9,93 bilhões, segundo a ABPA. 

Gripe aviária: exportação de frango do Brasil está suspensa para 16 países e União Europeia

Gripe aviária: exportação de frango do Brasil está suspensa para 16 países e União Europeia - Foto: reprodução
Gripe aviária: exportação de frango do Brasil está suspensa para 16 países e União Europeia – Foto: reprodução

As exportações de frango e derivados do Brasil estão suspensas para 16 países e a União Europeia após a confirmação de foco da gripe aviária em uma granja comercial no Rio Grande do Sul. A informação foi divulgada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária nesta segunda-feira (19/5) após entrevista coletiva na qual disse que três dos sete outros casos suspeitos da doença no país foram descartados.

Na lista estão países que suspenderam todas as importações da categoria de origem brasileira e os que tiveram as certificações das exportações interrompidas pelo Brasil, conforme previsto em acordos sanitários.

Países como México, Coreia do Sul, Chile, Canadá, Uruguai, Malásia e Argentina pediram a suspensão da importação da carne de aves de todo o Brasil. Já para China, União Europeia (que soma 27 países), África do Sul, Rússia, Peru, República Dominicana, Bolívia, Marrocos, Paquistão e Sri Lanka a suspensão para todo o território nacional foi aplicada em atendimento aos requisitos sanitários em protocolos assinados com esses países parceiros.

Cuba, Bahrein e Reino Unido paralisaram a importação somente do estado do Rio Grande do Sul. Segundo o ministério, diversos outros países aplicam a restrição apenas à área afetada, em Montenegro (RS), o que não gera impactos comerciais porque não há estabelecimentos exportadores localizados no raio do foco. É o caso de territórios como Singapura, Filipinas, Jordânia, Hong Kong, Índia, Paraguai e Vietnã. Ao todo, o Brasil exporta frango para cerca de 160 países.

Governo de Minas anuncia descarte de 450 toneladas de ovos em prevenção à gripe aviária

Governo de Minas anuncia descarte de 450 toneladas de ovos em prevenção à gripe aviária - Foto: divulgação
Governo de Minas anuncia descarte de 450 toneladas de ovos em prevenção à gripe aviária – Foto: divulgação

Um dia após o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmar o primeiro caso de gripe aviária no Brasil, o governo de Minas anunciou que vai descartar 450 toneladas de ovos fecundados e demais materiais no Centro-Oeste do Estado. A decisão foi tomada durante uma reunião emergencial entre o Executivo e o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), neste sábado (17 de maio).

Segundo o governo de Minas, os ovos foram trazidos de uma granja comercial da cidade Montenegro (RS), local cuja detecção do vírus da influenza aviária de alta patogenicidade foi confirmada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). O descarte aconteceu no Centro-Oeste de Minas como forma de conter qualquer risco de disseminação da doença no estado.

“A gripe aviária leva as aves à morte, mas não representa risco para a população por não ser transmissível por meio do consumo da carne ou ovos”, informou o governo, em nota oficial. Ainda de acordo com o Executivo, os ovos descartados não eram destinados ao consumo humano, mas sim à reprodução de aves.

“Todas as medidas que estão sendo tomadas fazem parte do Plano de Contingência da Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP), firmado entre União, estados e setor produtivo em 2022, quando surgiu o primeiro foco da doença na América do Sul”, garantiu.

Novos descartes podem ocorrer

O governo do Estado também não descartou a possibilidade de novos descartes nos próximos dias, caso sejam identificadas novas remessas produzidas na granja da cidade de Montenegro.

Além da ação emergencial, o estado afirma que segue monitorando a situação com medidas de prevenção, rastreamento e controle sanitário, em articulação com o Ministério da Agricultura e demais órgãos.

O IMA informou que, de forma contínua, realiza ações de vigilância epidemiológica contra doenças como Newcastle, salmonelose e micoplasmose. As medidas incluem controle em granjas comerciais, educação sanitária e vistorias em propriedades classificadas como de risco.

Minas tem segunda maior produção de ovos do país

Minas Gerais ocupa a segunda posição no ranking nacional de produção de ovos e é o quinto maior produtor de galináceos do país. Em 2024, mais de 8 mil ações de educação sanitária foram realizadas em estabelecimentos com aves no estado.

As ações do governo também fazem parte do Plano Nacional de Vigilância da Influenza Aviária, desenvolvido em conjunto com o Ministério da Agricultura.

Brasil confirma 1º foco de gripe aviária em granja comercial

Brasil confirma 1º foco de gripe aviária em granja comercial - Foto: reprodução
Brasil confirma 1º foco de gripe aviária em granja comercial – Foto: reprodução

O Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) confirmou nesta sexta-feira (16) a detecção do vírus da influenza aviária de alta patogenicidade em uma granja de aves comerciais no Rio Grande do Sul.

A detecção, que pode levar a embargos comerciais, ocorreu no município gaúcho de Montenegro de 64 mil habitantes, e é o primeiro foco da doença registrado em sistema de avicultura comercial no país, disse a pasta, em comunicado.

O ministro Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária) decretou emergência zoossanitária por 60 dias no município de Montenegro, em um raio de dez quilômetros ao redor do estabelecimento onde foi encontrado o vírus da influenza aviária de alta patogenicidade. Essa área pode ser alterada posteriormente pela Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa. 

O ministério disse que está tomando as medidas necessárias para conter e erradicar o foco, além de realizar a comunicação oficial à OMSA (Organização Mundial de Saúde Animal), aos parceiros comerciais do Brasil e outros.

“As medidas de contenção e erradicação do foco previstas no plano nacional de contingência já foram iniciadas e visam não somente debelar a doença, mas também manter a capacidade produtiva do setor, garantindo o abastecimento e, assim, a segurança alimentar da população”, explicou o comunicado. 

O Brasil, maior exportador de frango do mundo, confirmou os primeiros surtos da gripe aviária altamente patogênica entre aves selvagens em maio de 2023 e, desde então, registrou surtos na natureza em pelo menos sete Estados. 

Após o primeiro surto, o Japão suspendeu as compras de aves do Espírito Santo, onde na época um surto foi confirmado em uma fazenda não comercial.

A doença não é transmitida pelo consumo de carne de aves ou de ovos, afirmou o ministério, observando que o risco de infecções em humanos pelo vírus da gripe aviária é baixo e, em sua maioria, ocorre entre tratadores ou profissionais com contato intenso com aves infectadas. 

“A população brasileira e mundial pode se manter tranquila em relação à segurança dos produtos inspecionados, não havendo qualquer restrição ao seu consumo”, diz o comunicado. 

Segundo o ministério, o Serviço Veterinário brasileiro está treinado e equipado para enfrentar a doença desde a primeira década dos anos 2000. As ações adotadas incluem o monitoramento de aves silvestres, a vigilância epidemiológica na avicultura comercial e de subsistência, e o treinamento constante de técnicos, acrescentou.

Na terça-feira (13), o parque zoológico de Sapucaia do Sul, a 50 quilômetros de Montenegro, também registrou mortes de 38 cisnes e diferentes espécies de patos. O parque está fechado de forma preventiva desde então e investiga os casos estudando amostras dos animais e dos lagos que eles habitavam. 

“Os veterinários da Sema [Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul] estão atentos e acompanhando possíveis sintomas nos demais animais”, disse a secretaria em nota. A previsão é de que as visitas voltem a ocorrer neste sábado (17).

O vírus da influenza H5N1 tem avançado entre diferentes animais nas Américas nos últimos anos. Nos Estados Unidos, em 2024, houve registro de gripe aviária em gado leiteiro e, na Argentina e no Chile, houve casos em leões marinhos, sendo alguns fatais.

Gripe aviária abre portas para exportação de ovos mineiros aos EUA

Gripe aviária abre portas para exportação de ovos mineiros aos EUA - Foto: reprodução
Gripe aviária abre portas para exportação de ovos mineiros aos EUA – Foto: reprodução

No balanço das exportações do agronegócio mineiro em março deste ano, um dado em especial chama a atenção: o crescimento notável das vendas para o exterior de ovos de galinha, especialmente para os Estados Unidos. O que está por trás das características é o surto de Influenza Aviária que atingiu as aves americanas e gerou um efeito cascata que mostrou uma excelente oportunidade para as vendas brasileiras – e Minas Gerais é um grande protagonista nesse cenário.

Os Estados Unidos são o segundo maior produtor global de ovos. No entanto, com a doença, eles precisaram abater os rebanhos de aves, o que gerou uma maior necessidade de importar o alimento. O país viu no Brasil um fornecedor para sua demanda por ovos e países que tradicionalmente compravam dos americanos, como México e Canadá, também vieram em busca dos produtos brasileiros. “Isso é uma janela de oportunidade para Minas Gerais”, explica a assessora técnica do Programa AgroExporta, da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (SEAPA), Manoela Oliveira.

Excelência mineira

Segundo ela, o crescimento da demanda americana por ovos beneficia todo o país, mas há dois polos avícolas em Minas que saem na frente. A região de Montes Claros, no Norte do estado, se destaca pela posição logística privilegiada, realizada como um “hub” para outras regiões; e o sul de Minas, com destaque para o município de Pouso Alegre, que surge como um núcleo tecnológico da avicultura. O Sul também conta com cooperativas grandes e bem estruturadas, e o fato de estar próximo a São Paulo e de centros de pesquisas de genética avícola fazem com que essa área responda por um percentual alto da produtividade no estado, combinando uma escala industrial com o acesso a mercados de consumidores.

“Minas Gerais conta com um rebanho de postura de cerca de 21 milhões de cabeças, ou seja, 8% do efetivo nacional. Temos uma cadeia produtiva altamente tecnificada e o perfil dos produtores rurais é um perfil de qualificação. Temos também um sistema de defesa sanitária reconhecido, executado pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA)”. Além disso, Minas responde por 7% dos ovos produzidos no Brasil, cerca de 431 milhões de dúzias por ano. Esses pontos, somados ao crescimento de 266% no valor exportado só neste primeiro trimestre, mostram que a demanda está sendo redirecionada para Minas Gerais, completa a avaliadora.

Apesar da alta demanda pelo produto, as análises da Secretaria de Agricultura revelam que não há risco de desabastecimento. O quantitativo de ovos para exportação representa apenas 1% da produção total de Minas, o que deixa 99% para atender ao mercado interno. “Não há risco nem a curto, nem a médio prazo de desabastecimento, porque essa proporção cria uma reserva de segurança. Para causar um impacto significativo na disponibilidade doméstica, teria que haver um aumento muito súbito e expressivo da demanda internacional, e os preços no mercado externo contêm que aumentam significativamente, além de ter uma capacidade ociosa das granjas mineiras, que não é o que ocorre”, especifica Manoela.

Perspectivas

Os números atuais mostram uma trajetória ascendente na exportação de ovos, embora haja outras variações mais complexas. “Ainda é cedo para essa estimativa devido às dinâmicas mercadológicas de exportações, mas já é possível inferir que estamos exportando praticamente o dobro do ano passado para esse mesmo período – no primeiro trimestre nós fechamos com US$ 4 milhões em receita e 2 mil toneladas em volume. Para o próximo trimestre, devemos alcançar cerca de US$ 8 milhões em vendas e pouco mais de 4 mil toneladas de ovos para exportação”, conclui Manoela.

Gripe aviária: Ministério da Saúde lança plano de contingência e se prepara para a possibilidade de casos no país

Trabalhador examina aves em busca de sinais de infecção por gripe aviária em granja. — Foto: CHAIDEER MAHYUDDIN / AFP
Trabalhador examina aves em busca de sinais de infecção por gripe aviária em granja. — Foto: CHAIDEER MAHYUDDIN / AFP

O Ministério da Saúde lançou um plano para se preparar para a possibilidade de a gripe aviária provocar uma nova crise sanitária. Chamado de Plano de Contingência Nacional do Setor Saúde para Influenza Aviária, o documento estabelece as responsabilidades nos âmbitos federal, estadual e municipal e define estratégias de organização para o caso precise enfrentar emergências relacionadas à doença.

Em comunicado, a pasta explica que as ações preveem atividades integradas de vigilância epidemiológica, diagnóstico laboratorial, assistência e comunicação em saúde. Embora destaque que nenhum caso tenha sido registrado no Brasil, o objetivo é “garantir uma resposta coordenada e eficaz a possíveis surtos da doença”. É o que explica a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do ministério, Ethel Maciel:

“As emergências sanitárias exigem respostas rápidas e coordenadas. Por isso, é fundamental iniciar antecipadamente a preparação para doenças com potencial pandêmico, com uma definição clara das ações necessárias em diferentes cenários, de forma a fortalecer a capacidade do SUS, em todas as suas instâncias, para identificar possíveis ameaças e promover oportunamente as medidas necessárias para proteger a saúde da população”.

Marcelo Gomes, coordenador-geral de Vigilância da Covid-19, Influenza e Outros Vírus Respiratórios da pasta, acrescenta que o plano vai desde “ações de rotina até medidas necessárias frente à ocorrência de casos de influenza aviária no país, estabelecendo os diferentes níveis de emergência e as ações para proteção da saúde da nossa população.

No ano passado, o Ministério da Saúde já havia publicado o Guia de Vigilância da Influenza Aviária em Humanos, que detalha as diretrizes para o monitoramento de pessoas expostas a animais suspeitos ou confirmados com gripe aviária.

A pasta diz ainda que “monitora e avalia permanentemente as evidências científicas mais atuais sobre o tema em nível internacional, assim como a situação atual das vacinas contra Influenza aviária, de forma a subsidiar as recomendações e ações necessárias no território brasileiro”.

O Instituto Butantan, em São Paulo, tem um imunizante que aguarda aval da Anvisa para entrar nos testes clínicos com humanos. Em entrevista, o diretor do instituto, Esper Kallás, disse que a expectativa é receber a aprovação para dar início aos estudos no ano que vem:

— Os centros de pesquisa já foram selecionados para recrutar os participantes. Já tivemos algumas conversas preliminares com o Ministério da Saúde, que se sensibilizou para avançarmos nessa discussão. Tendo a plataforma aprovada, podemos adaptar para a versão do vírus que esteja circulando naquele momento. A ideia é ter pelo menos uma quantidade mínima disponível para caso o vírus comece a se disseminar entre humanos.

A pasta da Saúde destaca que não há hoje uma dose aprovada pela Anvisa. “Ainda assim, o Ministério da Saúde já consultou a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) em busca de possíveis fornecedores, caso uma aquisição seja necessária, e mantém diálogo com o Instituto Butantan, que possui vacina em estudo de fase 2, e poderá fornecer a vacina para o SUS no futuro”.

Risco de uma nova pandemia

O risco de uma nova crise sanitária causada pela gripe aviária H5N1 aumentou neste mês após os Estados Unidos registrarem o primeiro caso grave em humanos. O vírus tem se expandido e provocado um surto sem precedentes entre vacas leiteiras e trabalhadores rurais no país. A origem provável da contaminação do paciente, que está hospitalizado, foi o contato com aves doentes. Com ele, já são mais de 60 pessoas infectadas desde abril pela exposição a animais.

Considerado o atual epicentro do H5N1, os EUA registraram ainda 10,8 mil aves selvagens infectadas e 123 milhões de aves para criação, em granjas de 50 estados. Entre as vacas leiteiras, após o registro inédito da doença na espécie, em março, já são 865 rebanhos afetados em 16 estados americanos.

O cenário levou Gavin Newsom, governador da Califórnia, que concentra mais da metade dos casos em humanos, a decretar estado de emergência. Ele afirmou que objetivo é “garantir que as agências governamentais tenham os recursos e a flexibilidade necessários para responder rapidamente a esse surto”, embora tenha ponderado que o risco para a população geral “permanece baixo”.

A gripe aviária diz respeito a um conjunto de cepas do Influenza que circula principalmente entre aves. A cepa H5N1 surgiu ainda em 1996, com os primeiros surtos em animais e humanos no ano seguinte. Desde 2021, no entanto, novas mutações têm levado o H5N1 a se expandir entre aves e de forma inédita entre espécies de mamíferos, como leões-marinhos e vacas, além de para novas regiões do planeta. No Brasil, por exemplo, foi identificado pela primeira vez em aves silvestres no ano passado.

Embora os casos humanos esporádicos aconteçam há um tempo, não há registro de disseminação entre pessoas – o que é o grande temor dos especialistas porque elevaria consideravelmente o risco de uma nova pandemia. Isso porque segundo os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), de 2003 a 2023 foram registrados 878 casos humanos de H5N1, dos quais 458 morreram: uma taxa de letalidade de 52%.

Mato Grosso do Sul registra primeiro foco de gripe aviária em criação doméstica

Mato Grosso do Sul registra primeiro foco de gripe aviária em criação doméstica – Foto: reprodução

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou a detecção do vírus da influenza aviária de alta patogenicidade (H5N1) em uma criação de aves domésticas de subsistência na cidade de Bonito, Mato Grosso do Sul. A informação foi divulgada na segunda-feira (18).

Esse é o primeiro foco da doença registrado no estado, e o terceiro em aves de subsistência detectado no Brasil.

O Serviço Veterinário Oficial trabalha para conter e erradicar o foco. Para isso, intensificou as ações de vigilância em populações de aves domésticas na região. Nas áreas de risco epidemiológico ao redor, não há estabelecimentos avícolas industriais, segundo o Mapa.

Esse registro foi 103º foco confirmado no Brasil e o terceiro em criações não comerciais. O painel do Mapa sobre gripe aviária indica 105 registros nesta terça-feira (19) – 102 de aves silvestres e três de aves de subsistência.

Como envolve aves de subsistência, o caso de segunda não traz restrições ao comércio internacional de frango e outros produtos avícolas brasileiros. O consumo e a exportação da avicultura nacional permanecem seguros, diz o Mapa.

Também não há mudanças no status brasileiro de livre da influenza aviária perante a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), por não haver registro da doença na produção comercial.

A população não deve recolher aves que encontrarem doentes ou mortas. Nesses casos, a pessoa precisa acionar o serviço veterinário mais próximo para evitar o contágio do vírus.

Minas Gerais registra primeiro caso de gripe aviária

O estado de Minas Gerais registrou seu primeiro caso de gripe aviária. O vírus foi encontrado em um pato de vida livre da espécie Cairina moschata, na cidade de Pará de Minas. Em nota, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) destacou que se trata de um caso de influenza aviária de baixa patogenicidade (H9N2), que geralmente causa pouco ou nenhum sinal clínico nas aves. 

Em nota, a pasta detalhou que a detecção de um novo subtipo do vírus não tem relação com os focos confirmados de alta patogenicidade (H5N1) em aves silvestres nos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, que podem causar graves sinais clínicos e altas taxas de mortalidade. “Não requer a aplicação de medidas emergenciais e não compromete a condição do Brasil como país livre de IAAP [influenza aviária de alta patogenicidade]”. 

“O Mapa reforça que a influenza aviária de baixa patogenicidade não é uma doença de notificação obrigatória à Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) e não traz restrições ao comércio internacional de produtos avícolas brasileiros”. 

Subtipos 

Ainda segundo a pasta, os diversos subtipos do vírus da influenza aviária podem infectar esporadicamente outras espécies, como mamíferos, incluindo pessoas. Os casos de infecção humana, entretanto, são considerados esporádicos e relacionados à exposição sem proteção adequada às aves doentes, não havendo registro de transmissão entre humanos. 

“Evidências de presença de outros vírus de influenza aviária de baixa patogenicidade já foram encontradas no Brasil anteriormente. Esses vírus circulam normalmente em populações de aves silvestres, principalmente as aquáticas, em todo o mundo, causando doença leve ou assintomática em aves domésticas e selvagens.” 

O ministério alerta que o contato direto com aves doentes ou mortas deve ser evitado. Todas as suspeitas de influenza em aves domésticas ou silvestres, incluindo a identificação de aves com sinais respiratórios ou neurológicos devem ser notificadas ao órgão estadual de saúde animal ou à Superintendência Federal de Agricultura e Pecuária. 

Novos focos 

Na quinta-feira (1º), foram confirmados mais seis focos de influenza aviária de alta patogenicidade (H5N1) no país, totalizando 19 confirmações de focos em aves silvestres no Brasil. 

Dentre os seis casos recentes, quatro foram identificados no Espírito Santo, sendo três no município de Marataízes – nas espécies Thalasseus acuflavidus (trinta-réis de bando), Thalasseus maximus (trinta-réis-real) e Nannopterum brasilianum (biguá) – e um no município de Guarapari – Thalasseus acuflavidus (trinta-réis de bando). 

Os outros dois casos recentes foram identificados no Rio de Janeiro, ambos na espécie Thalasseus acuflavidus (trinta-réis de bando). 

Estado do Rio registra terceiro caso de gripe aviária

O estado do Rio de Janeiro registrou o terceiro caso de ave silvestre migratória contaminada com influenza aviária (H5N1), a chamada gripe aviária. O governo do Rio informou, neste sábado (27) à noite, que o trinta-réis-de-bando (Thalasseus acuflavidus) foi encontrado na Ilha do Governador, zona norte do Rio.

De acordo com o comunicado, o Laboratório Federal de Defesa Agropecuária (LFDA-SP) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) fez a análise do material da ave que foi recolhida, por profissional especializado, na terça-feira (23).

O governo estadual acrescentou que o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) das secretarias de Estado de Saúde (SES-RJ) e municipal de Saúde do Rio de Janeiro está monitorando as três pessoas que atuaram no recolhimento do animal. “Até o momento, nenhuma delas apresenta sintoma gripal e, por isso, não foram colhidas amostras para exames”, apontou o comunicado.

Ainda em maio, outras duas aves silvestres da mesma espécie foram identificadas, com o vírus H5N1. “Elas foram encontradas em São João da Barra, no Norte Fluminense, e em Cabo Frio, na região dos Lagos”, completou o Executivo fluminense.

As ações de monitoramento e prevenção para evitar a disseminação do vírus no estado, segundo autoridades estaduais, foram intensificadas. A Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento (Seappa) divulgou, nesta semana, “o Plano de Contingência que estabelece medidas de controle para detectar precocemente e conter a disseminação da Influenza Aviária em aves domésticas, silvestres e exóticas”. Além disso, por se tratar de zoonose com potencial pandêmico, o documento estabelece o fluxo de informação entre os órgãos envolvidos.

“As secretarias de Saúde e de Agricultura instituíram um fluxo de comunicação para informar qualquer mortalidade de aves suspeitas, assim como pessoas com suspeita de síndrome gripal com histórico de contato com aves suspeitas”, completou na nota.

De acordo com os técnicos da SES e da Seappa,não há motivos de preocupação da população sobre epidemia de H5N1, porque, no momento, não há transmissão direta, de pessoa para pessoa. Os técnicos ressaltaram ainda que a doença não é transmitida pelo consumo de carne de aves e nem de ovos. “As infecções humanas pelo vírus da Influenza Aviária ocorrem por meio do contato direto com aves infectadas (vivas ou mortas)”, informaram.

Prevenção

Também no comunicado, o governo do Rio lembrou que na segunda-feira passada (22), o Ministério da Agricultura decretou emergência zoosanitária em todo o território nacional. A intenção é evitar que a doença chegue à produção de aves de subsistência e comercial, além de preservar a fauna silvestre e a saúde humana.

Já a SES-RJ orientou os profissionais das unidades de saúde que sigam atentos, durante a triagem e o atendimento médico, a casos de síndrome gripal em pacientes que tiveram contato com animais silvestres. “Havendo suspeita, a coleta de amostras é recomendada, independentemente do dia de início dos sintomas, incluindo os casos em unidade de terapia intensiva (UTI). O diagnóstico por RT-PCR é considerado o método padrão-ouro e deve sempre ser adotado para obtenção dos resultados laboratoriais”, apontou.

Alerta

A Secretaria de Estado de Agricultura chamou atenção para a necessidade de a população evitar contato direto com aves caídas, mortas ou não, domésticas, silvestres/exóticas e migratórias, além de mamíferos aquáticos (qualquer espécie). “Qualquer suspeita de animal contaminado deve ser comunicada imediatamente ao Núcleo de Defesa Agropecuária da região ou à Coordenação de Vigilância Ambiental do seu município”, orientou.

Avicultores

Aos criadores de aves de corte ou postura, avicultura de pequena escala e subsistência, a Secretaria de Agricultura sugeriu que intensifiquem as medidas de biosseguridade das granjas. “Devem ser tomados cuidados como proibir terminantemente qualquer tipo de visita às unidades de produção; conferir cercamento de núcleo e telamento adequado do galpão; manter o portão de acesso das propriedades fechado; desinfetar veículos e materiais que acessem as granjas; ter cuidados com ração e água; manter registro de pessoas e veículos entre outras medidas definidas nas normas vigentes”, indicou.

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