
Após a repercussão das informações sobre uma idosa, residente no Lar São José de Guapé (MG), que está internada na Santa Casa do município, a entidade, que acolhe diversos idosos, isentou a responsabilidade sobre a falta de um acompanhante para a senhora Maria Inês Marcelino Santos, de 82 anos. Segundo o Lar, é dever da Santa Casa ou da família se encarregar de um responsável pelo acompanhamento da paciente.
Em nota, a Sociedade de São Vicente de Paulo informou que é habitual que as unidades hospitalares custeiam um acompanhante para pacientes que residem nesse tipo de instituição.
‘’Nos últimos tempos, tem-se tornado corriqueira a exigência por partes dos hospitais, públicos ou privados, conveniados ao SUS – Sistema Único de Saúde, o custeio de acompanhante durante a internação dos idosos acolhidos em nossas Instituições. Todavia, tal exigência, além de carecer de fundamento legal, nos impõem um enorme dispêndio financeiro, escoando o dinheiro que poderia ser revertido na melhoria das condições de saúde e bem-estar dos nossos acolhidos. É notório que o repasse de verbas públicas às nossas ILPI – Instituições de Longa Permanência de Idosos, tem sido cada vez menor, ou seja, o Estado tem deixado de contribuir para o exercício de uma atividade de sua competência’’, informou a sociedade.
De acordo com o movimento católico, de modo geral, é responsabilidade dos órgãos públicos da saúde encontrar formas que permitam a presença adequada de acompanhantes a pacientes com idade igual ou superior a 60 anos.
‘’Sendo a saúde direito de todos, é competência dos órgãos e entidades públicas da área de saúde, dentro da Política Nacional do Idoso, prevenir, promover, proteger e recuperar a saúde desse segmento da população. Em razão dessas imposições constitucionais, o Ministério da Saúde definiu a obrigação dos hospitais públicos e conveniados com o SUS de viabilizar meios que permitam a presença de acompanhantes de pacientes idoso quando internados, o que abrange acomodações adequadas e fornecimento de refeições’’, frisou a Sociedade de São Vicente de Paulo.
A Tesoureira do Lar São José, Kelly Oenning, reafirmou que é encargo da Santa Casa e da família disponibilizar um acompanhante para a paciente Maria Inês e para qualquer outro idoso ou idosa residente da entidade, visto que o Lar não possui verba para custear uma pessoa que possa acompanhar a paciente.
‘’Ela (Maria Inês) ficou doente em agosto, nós a levamos para Passos (MG). Tivemos um médico, ele nem cobrou a consulta dela, que ficou quase um mês internada, pagando. Nós gastamos mais de dez mil reais com ela. Tudo dinheiro de doação, só que agora o dinheiro de doação acabou. Nós fomos atrás das Obras Unidas para saber como resolver (sobre o caso da paciente). Quando você entra no Lar, você tem um contrato. A responsabilidade do Lar de ficar com o idoso é até a internação dele na Instituição de saúde. Internou é responsabilidade da família. Se não tem família, é responsabilidade da Santa Casa. Nós fizemos reuniões com a presidente da Santa Casa, já conversamos, já pedimos, tentamos entrar em um acordo com ela. Isso é uma nova necessidade que surgiu, porque o Lar não tem mais dinheiro para poder pagar”.
Kelly relata que atualmente a entidade acolhe 33 pessoas, sendo cuidadas apenas por uma técnica e uma cuidadora diariamente, portanto é impossível retirar uma profissional para acompanhar uma paciente no hospital.
‘’Deixamos uma cuidadora até que ela seja atendida na Santa Casa. Precisou internar, quando a pessoa tem familiares, vai para lá, quando não tem, a gente às vezes pede doação, só que agora a gente não tem dinheiro para isso. Nós fomos ver, todas as outras unidades dos lares, nas internações nos hospitais, tem uma aula especial, que cuida dessas pessoas. Aqui tem que criar essa condição, porque agora surgiu a necessidade disso’’.
A tesoureira diz que nenhum residente do Lar, que é internado na Santa Casa, incluindo Maria Inês, é abandonado.
‘’Já tem um voluntário com ela (Maria Inês), que é a Beatriz. Nós dependemos disso, essa é uma realidade, o poder público tem que ajudar. Eles não ficam abandonados lá, de forma alguma. A Dona Inês está sob os cuidados médicos, tudo certinho, as enfermeiras estão cuidando super bem dela, desde a atenção necessária até o banho. Nós fazemos tudo dentro das normas. Esses dias a Santa Casa estava fechada para visitas por causa da Covid. Então a gente vai até a portaria e pede. A responsabilidade do Lar é até o momento que o paciente é internado, depois é da família, do Poder Público ou da Santa Casa. Os hospitais de outras cidades, têm uma ala para isso, é uma nova necessidade que a Santa Casa tem que adequar’’.
Kelly informou que a residente Maria Inês não gosta de sair do lar, por isso fica triste quando há essa necessidade.
‘’Ela mora no Lar há mais de 20 anos, então todas as vezes que ela sai do Lar, mesmo estando acompanhada, ela chora porque quer voltar, ela se sente feliz lá. Ela foi para o Lar há mais de 20 anos, andando com as próprias pernas. Foi ela quem pediu para ser moradora de lá. Então ela adora, é uma pessoa alegre, feliz, muito boa. Hoje mesmo o presidente, que é o Geraldo, foi lá para ver ela. A dona Inês conversou, contou caso, ela está bem. Só é aquela coisa de idoso, porque quem mora em lares se sente abandonado pelas pessoas, pela família, isso é um grande problema, é um dilema sério. Então nós estamos promovendo muitas festas e atividades para que eles se sintam mais amados. Estamos fazendo aula de pintura, tem missa, aula de educação física. Então estamos fazendo a nossa parte’’.
Kelly diz que o Lar se sustenta com o salário dos acolhidos e com doações. Segundo a tesoureira, parte dos internos recebem R$1.412,00 de aposentadoria ou pensão e a outra parte ganha R$600,00 de LOAS.
‘’70% do salário é para manutenção do Lar, como funcionários, alimentação, luz, água. 30% é para despesas com fraldas, remédios, despesas pessoais. Então o Lar vive doação, porque é impossível, a conta não fecha. A folha de pagamento é R$39.000,00 mensais, o que entra deles (dos internos) dá mais ou menos R$25.000/R$26.000. A prefeitura contribui com a subvenção, mas mesmo assim, a gente depende muito das doações. Igual supermercado, desde quando entramos, em maio de 2024, nós não pagamos mais, pois ganhamos tudo. Nós vamos atrás, estamos fazendo um trabalho bacana lá. Com as Obras Unidas, estamos tentando corrigir. Estamos fazendo um trabalho de formiguinha. Tentando elevar a autoestima deles’’.
Kelly relata, que devido a alguns ex-funcionários do Lar São José, ela têm sido atacada pela população.
‘’Eles não deram conta do trabalho, da forma que a gente solicitou, do acompanhamento, das mudanças que a gente queria, e pediram demissão. Isso aí é complicado porque dói nas pessoas. Mas a gente está tentando fazer um trabalho muito bom. Isso qualquer um pode ver, você pode olhar aí do Facebook do Lar. A gente procura mostrar tudo, para as pessoas se envolverem, se motivarem, ajudarem. Por exemplo, tem gente que acha que não pode ajudar: ‘ah, eu não tenho nada’. Mas se tem um maracujá em casa, que ele leva para o Lar, a gente faz um suco pra eles. Então todo mundo pode ajudar, esse é o nosso trabalho, nós tentando fazer’’.
O Lar está de portas abertas para visitas e pedimos a população para que contribua, pois a diretoria está lutando para não fechar as portas da entidade e os idosos serem encaminhados para as cidades vizinhas.