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Mudanças climáticas ameaçam a sobrevivência de ipês, jequitibás e outras árvores emblemáticas

Ipê, copaíba, jequitibá e castanheira-do-pará. — Foto: Denis Henrique
Ipê, copaíba, jequitibá e castanheira-do-pará. — Foto: Denis Henrique

Espécies de árvores de grande porte, como ipês, jequitibás e castanheiras-do-Pará, estão em risco de desaparecer de seus habitats naturais nas florestas tropicais da América do Sul, incluindo a Mata Atlântica e a Floresta Amazônica. A conclusão vem de dois estudos científicos publicados nas revistas Science e Nature, com participação de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

As pesquisas alertam que, embora os biomas tropicais tenham capacidade de resistir à crise climática, a velocidade das mudanças no clima ultrapassa a capacidade natural de adaptação das espécies, especialmente das árvores de grande porte.

Biomas tropicais não acompanham o ritmo das mudanças climáticas

A principal descoberta dos estudos é que a lentidão no processo de adaptação pode impedir a regeneração natural de espécies-chave. O monitoramento de longo prazo realizado em parcelas permanentes de vegetação — áreas florestais acompanhadas há décadas — mostra que árvores jovens dessas espécies não estão mais surgindo nas florestas.

“Essas árvores funcionam como antes, mas perderam eficiência. Não conseguem investir em raízes, troncos e galhos e acabam morrendo sem deixar descendentes”, afirma o professor Carlos Alfredo Joly, da Unicamp.

A professora Simone Aparecida Vieira, também da Unicamp, complementa: “Muitas dessas árvores não completam o processo de recrutamento — ou seja, de produzir sementes viáveis e crescer até a fase adulta — devido à maior sensibilidade na fase jovem”.

Carlos Alberto Joly (à esquerda) e pesquisadores em parcela permanente do Parque Estadual da Serra do Mar, em São Luiz do Paraitinga (SP) — Foto: Carlos A. Joly/Arquivo pessoal
Carlos Alberto Joly (à esquerda) e pesquisadores em parcela permanente do Parque Estadual da Serra do Mar, em São Luiz do Paraitinga (SP) — Foto: Carlos A. Joly/Arquivo pessoal

Por que espécies como a castanheira-do-Pará estão desaparecendo?

A castanheira-do-Pará é um exemplo emblemático. Segundo os pesquisadores, não estão sendo encontrados exemplares jovens da espécie na Amazônia, o que sugere um processo silencioso de extinção.

Essas árvores, por terem madeira de alta densidade, crescem lentamente e são mais vulneráveis a eventos extremos como secas e ondas de calor. Isso agrava sua capacidade de regeneração em um ambiente de mudanças climáticas aceleradas.

As florestas continuarão existindo, mas com espécies diferentes

Embora o cenário pareça alarmante, os cientistas explicam que o desaparecimento das espécies atuais não implica no fim das florestas tropicais. O que deve ocorrer é a substituição das espécies menos adaptadas por outras mais resistentes ao novo clima.

“A substituição já era esperada, mas está ocorrendo de forma muito mais lenta do que o necessário. Isso deixa as florestas tropicais mais vulneráveis às mudanças climáticas”, explica Simone Vieira.

Reflorestar não é o mesmo que restaurar

Para os especialistas, restaurar uma floresta exige mais do que simplesmente plantar árvores. É necessário entender quais espécies estão preparadas para sobreviver ao novo clima. Caso contrário, os esforços de reflorestamento podem ser ineficazes.

“Plantar espécies que não suportam os novos padrões climáticos é jogar sementes ao vento. Precisamos estudar melhor a resiliência das árvores antes de restaurar as áreas degradadas”, alerta Simone.

Impactos no ecossistema e na biodiversidade

A extinção local de árvores de grande porte afeta diretamente toda a cadeia ecológica, incluindo animais dispersores como pássaros, morcegos, cutias e pacas, que dependem dessas árvores para alimentação.

“Sem essas árvores, os frutos desaparecem, e com eles, os animais que os consomem. É um efeito cascata que leva à perda da biodiversidade”, afirma Joly.

As árvores também regulam o clima
As florestas tropicais são fundamentais para o ciclo da água e o equilíbrio do clima global, por meio de processos como a evapotranspiração, que contribui para a formação de nuvens e chuvas.

Com a redução da cobertura florestal e o comprometimento da sua saúde, diminui a capacidade das florestas de estocar carbono e manter os ciclos de chuva, afetando até mesmo regiões distantes.

“Se o carbono não estiver armazenado nas florestas, ele volta à atmosfera, intensificando o aquecimento global”, explica Simone.

Ameaça múltipla: clima, desmatamento e queimadas
Além dos efeitos das mudanças climáticas, as florestas tropicais ainda enfrentam pressões como desmatamento, queimadas e exploração predatória, que aceleram a perda de espécies e dificultam a regeneração natural.

“Mesmo as áreas não diretamente afetadas por ação humana ainda sofrem com o estresse climático. A combinação dessas ameaças coloca o futuro das florestas tropicais em risco”, finaliza Joly.

Proteger e restaurar com inteligência ecológica

A mensagem dos estudos é clara: as florestas tropicais estão mudando — e rápido demais. Para garantir sua sobrevivência, é necessário adotar estratégias de conservação baseadas em ciência, com foco na restauração de ecossistemas adaptados às novas condições climáticas.

O que está em jogo não é apenas a beleza de espécies como os ipês e jequitibás, mas o equilíbrio climático do planeta e a preservação da vida como a conhecemos.

Mudanças climáticas podem aumentar preços de alimentos ainda em 2024

Mudanças climáticas podem aumentar preços de alimentos ainda em 2024 - Foto: reprodução
Mudanças climáticas podem aumentar preços de alimentos ainda em 2024 – Foto: reprodução

A resiliência dos produtores de alimentos vai ter um grande desafio, caso as variações súbitas de clima, com sequência de períodos de calor e frio intensos e o impacto da seca, que facilita disseminação de fogo, continuem a afetar o país. É o que adianta o economista Thiago de Oliveira, da Companhia de Entrepostos e Armazéns e São Paulo (Ceagesp), ao alertar que os eventos climáticos podem afetar os preços do varejo ainda em 2024.

De acordo com Oliveira, a pressão sobre os preços aos consumidores afeta mais os cítricos, como laranjas e limões, que têm clima seco e instável como condições que podem impactar a produtividade e afetar o tempo de colheita. Essas condições podem favorecer o avanço do Cancro Cítrico ou Greening, doença bacteriana transmitida pelo inseto Psilídeo. A doença tem presença em todas as regiões produtoras do estado de São Paulo e causou a erradicação de mais de 2 milhões de pés este ano. 

“Se não houver uma melhora considerável na umidade, haverá um aumento de custo considerável. Estamos falando do meio de outubro, com impacto primeiro nos preços do atacado e pouco depois nas redes de varejo, já chegando ao consumidor”, explica o economista.

No estado, as hortaliças, tanto folhas como legumes, podem ter impacto em dezembro. Esses produtos tiveram boa oferta nas últimas semanas, pois o clima seco favorece a maturação e colheita, mas é ruim para os ciclos de plantio e crescimento das plantas. Esses produtos, assim como os cítricos, têm uma tendência de aumento de consumo nos meses de calor. 

Oliveira destacou que o último ano foi marcado pela inconstância, com o que chamou de flutuação de sazonalidade. Em resumo, tanto o frio quanto o calor não vieram quando eram esperados ou com as frequências esperadas, dificultando o planejamento do produtor rural. “O pequeno produtor perde mais, pois diferente do grande, não tem mais de uma cultura na propriedade. Quando o módulo de produção é pequeno, não há capital de giro nem condições de investimento. Isso ainda não se reflete em endividamento, isso porque os produtores estão arriscando menos e deixam de buscar capital para plantar áreas maiores”, diz Oliveira.

Perspectiva

Os valores de comercialização de frutas e verduras têm vindo de um histórico de queda recente, tanto de acordo com o controle da Ceagesp quanto o do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que registrou recuo nos últimos dois meses nos custos de produtos da cesta básica, com destaque para tomate e batata. 

Os dados com os quais o Ceagesp trabalha apontam tendência positiva, com chuvas suficientes para garantir boa produção. Oliveira ressalta que isso pode mudar e depende, também, se serão distribuídas em todas as áreas de produção e ao longo do período, o que não ocorreu nas últimas semanas.

Fogo

Desde agosto, o estado tem passado por grandes queimadas, favorecidas pelo tempo seco. Até esta segunda-feira (16), cinco municípios paulistas ainda tinham incêndios ativos. Apesar de pouco intensas, a nebulosidade e as chuvas que atingem o estado desde o domingo (15), aliadas a uma ação coordenada com 20 aeronaves, conteve a maior parte dos focos de incêndio, que diminuíram 88% em uma semana, segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências da Defesa Civil do estado de SP (CGE) divulgou em nota no começo dessa tarde. O órgão informou que três municípios permanecem com focos de incêndio ativos, Itirapuã e Rifaina, na região de Franca e Bananal, na região da Serra da Bocaína.

Em todas as regiões a perspectiva é favorável ao controle e extinção dos focos, mas a Defesa Civil segue com recomendação de cuidados para evitar novas queimadas e manterá as equipes de prontidão, monitorando as áreas que foram atingidas, principalmente na região norte do estado, que não recebeu chuvas.

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