Jornal Folha Regional

Papa Bento XVI acobertou casos de pedofilia na Alemanha

O papa emérito Bento XVI teria acobertado casos de pedofilia na Alemanha, segundo um relatório independente publicado nesta quinta-feira (20).

“Ele havia sido informado sobre o que aconteceu”, disse o advogado Martin Pusch, um dos responsáveis pela investigação, em entrevista coletiva em Munique.

As acusações contra Bento XVI são de que ele não teria agido para impedir que um padre abusasse de quatro meninos na época em que foi arcebispo de Munique e Freising, entre 1977 e 1982.

“Acreditamos que ele pode ser acusado por má-conduta desses quatro casos”, disse Pusch. “Os abusadores continuaram com suas atividades pastorais.”

O papa emérito, de 94 anos, que abandonou o cargo em 2013, nega qualquer alegação de que tivesse conhecimento sobre os abusos.

“Ele [Bento] alega que não tinha conhecimento dos fatos, mas nós acreditamos que não é bem assim, de acordo com o que descobrimos”, afirmou o advogado.

Os casos de abuso

Segundo o relatório, o então cardeal Joseph Ratzinger, antes de se tornar papa, não fez nada para afastar quatro clérigos suspeitos de abusos sexuais contra menores.

Em dois casos, os envolvidos eram membros do clero que cometeram várias agressões comprovadas, inclusive por tribunais. Os dois padres permaneceram dentro da Igreja e nada foi feito, diz a acusação.

Os investigadores disseram estar convencidos de que Ratzinger estava ciente do passado pedófilo do padre Peter Hullermann, que chegou em 1980 da Renânia do Norte-Vestfália, na Baviera, onde continuou a praticar abusos por décadas sem ser incomodado.

Em 1986, um tribunal o condenou à prisão, mas ele foi então transferido para outra cidade da Baviera, onde teria reincidido. Foi apenas em 2010 que este padre foi forçado a se aposentar.

Joseph Ratzinger negou conhecer o passado do padre, cujo caso ganhou as manchetes dos jornais em 2010, na época do pontificado de Bento XVI.

Os autores do relatório também apontam para o cardeal Reinhard Marx, atual arcebispo de Munique e Freising, por ser negligente em dois casos de padres suspeitos de abusos sexuais contra crianças.

No geral, o relatório denuncia o acobertamento sistemático de casos de violência contra menores entre 1945 e 2019 com o objetivo, segundo eles, de “proteger a instituição da Igreja”.

‘Comoção e vergonha’

O papa emérito Bento XVI expressou “comoção e vergonha” pela pedofilia na Igreja após a divulgação do relatório que o acusa de passividade nos casos de abuso infantil na Alemanha, disse seu secretário particular, monsenhor Georg Gänswein.

Bento XVI, de 94 anos, “expressa sua comoção e vergonha pelos abusos de menores cometidos por clérigos, e oferece sua proximidade e orações a todas as vítimas”, afirmou Gänswein à imprensa, especificando que o papa emérito “ainda não leu o relatório de 1.000 páginas” envolvendo ele.

“Nos próximos dias ele examinará o texto com a atenção necessária”, assegurou o padre, citando o relatório preparado a pedido da igreja local pelo escritório de advocacia Westpfahl-Spilker-Wastl.

O papa emérito – cujo nome civil é Josef Ratzinger – negou “estritamente” qualquer responsabilidade, uma posição que para os autores do relatório “não é crível”.

O Vaticano reiterou na quinta-feira sua “vergonha” e “remorso” pelo abuso sexual de crianças na Igreja, em um comunicado oficial.

Papa manifesta tristeza por abusos de menores pela Igreja na França

O papa Francisco manifestou nesta terça-feira (5) “profunda tristeza” após a publicação de um relatório sobre abusos sexuais de crianças e outros menores pela Igreja Católica francesa, dizendo que “tomou conhecimento dessa terrível realidade”.

“O pensamento do papa dirige-se, em primeiro lugar, às vítimas, com imensa dor pelas feridas e gratidão pela coragem de denunciar. Dirige-se também à Igreja da França, para que, ao tomar consciência dessa terrível realidade, possa empreender o caminho da redenção”, declarou o porta-voz do Vaticano, Matteo Brun, aos jornalistas sobre a reação do papa ao relatório.

Também nesta terça-feira, o episcopado francês expressou “vergonha” e pediu “perdão” às vítimas de crimes de pedofilia, após a divulgação de um relatório que revela que mais de 300 mil menores foram abusados pela Igreja Católica francesa durante 70 anos.

Elaborado por uma comissão independente e apresentado nesta terça-feira em Paris, o relatório concluiu que mais de 300 mil menores foram abusados e agredidos em instituições da Igreja Católica francesa, responsabilizando diretamente clérigos e religiosos por 216 mil vítimas, entre 1950 e 2020.

“O meu desejo neste dia é pedir o vosso perdão, o perdão de cada um de vós”, disse o bispo Eric de Moulins-Beaufort, presidente da Conferência Episcopal Francesa.

De acordo com o relatório, cerca de 216 mil crianças ou adolescentes foram abusados ou agredidos sexualmente por clérigos católicos ou religiosos.

O número de vítimas sobe para 330 mil, quando considerados “agressores leigos que trabalham em instituições da Igreja Católica”, especialmente nos trabalhos de assistência religiosa, professores nas escolas católicas ou em movimentos juvenis, segundo o presidente da Comissão Independente sobre os Abusos da Igreja (Ciase, na sigla em francês), Jean-Marc Sauvé, durante a apresentação do relatório à imprensa.

“Esses números são mais do que preocupantes, são condenáveis e não podem de forma alguma ser ignorados”, disse Jean-Marc Sauvé, acrescentando que a estimativa revelou que cerca de 80% são vítimas masculinas.

“As consequências são muito graves”, disse Sauvé, adiantando que “cerca de 60% dos homens e mulheres que foram abusados sexualmente revelam grandes problemas na sua vida sentimental ou sexual”.

O relatório de 2.500 páginas identifica cerca de 3 mil abusadores – dois terços dos quais padres – que trabalharam na Igreja francesa no período.

Para a comissão, as conclusões do relatório revelam fenômeno de “natureza sistêmica”, cuja responsabilidade a Igreja Católica deve reconhecer, assegurando “reparação” financeira a todas as vítimas.

De acordo com Sauvé, há 22 alegados crimes que ainda não prescreveram e foram encaminhados às autoridades judiciais.

Mais de 40 casos antigos para serem processados, mas que envolvem suspeitas sobre abusadores ainda vivos, foram encaminhados para análise dentro da própria Igreja.

Olivier Savignac, líder da associação de vítimas “Parler et Revivre”, que contribuiu para a investigação, destacou que a elevada proporção de vítimas por agressor é particularmente “aterradora para a sociedade francesa e para a Igreja Católica”.

O relatório surge depois do escândalo que envolveu o agora ex-padre Bernard Preynat, condenado, no ano passado, por abuso sexual a uma pena de prisão de cinco anos, por ter abusado de mais de 75 rapazes durante décadas.

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