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MPSP diz que flamenguista preso não atirou garrafa que matou palmeirense

MPSP diz que flamenguista preso não atirou garrafa que matou palmeirense – Foto: redes sociais

Ao defender a soltura do flamenguista preso pela morte da torcedora do Palmeiras Gabriela Anelli Marchiano, o promotor Rogério Leão Zagallo, do Ministério Público de São Paulo, afirmou que imagens da briga de torcida indicam que o suspeito não foi o responsável por atirar a garrafa que atingiu a jovem durante a briga entre torcidas no último sábado (8).

No pedido, Rogério Zagallo diz que, nas imagens, é possível ver um torcedor do flamengo de barba e camiseta cinza atirando uma garrafa pelo vão entre os tapumes que separavam as torcidas na rua Padre Tomás. Segundo o promotor, teria sido esse homem, cujas características não batem com as do suspeito preso, o responsável por jogar a garrafa que feriu Gabriela.

“Cotejando essas imagens captadas por quem estava no chão com aquelas apreendidas por quem estava no apartamento, podemos concluir que Gabriella foi atingida exatamente no momento em que o torcedor que ornava o rosto com barba e que vestia camisa cinza arremessou a garrafa que ele apanhara no chão. […] A pessoa que atira a garrafa é a que veste camisa cinza”, diz o promotor.

Isso, segundo ele, não exclui a possibilidade de que o suspeito preso também tenha arremessado objetos contra a torcida do Palmeiras.

Rogério Zagallo afirma que, “diante de tantas circunstâncias não contempladas pela investigação”, é necessário que o trabalho policial prossiga “para que possamos identificar quem foi o responsável pelo arremesso mortal”.

“Delegado falou inverdade”

No pedido de soltura, o promotor apontou inconsistências no trabalho do delegado responsável pelo caso, Cesar Saad, e pediu que a investigação seja transferida da Delegacia de Repressão ao Delito Esportivo para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa.

“Diante da postura estranha do delegado de Polícia César Saad, que afirmou perante a imprensa uma inverdade, o departamento que ele coordena demonstrou não estar preparado para uma investigação desta envergadura e complexidade. Sua isenção e imparcialidade restaram comprometidas, infelizmente”, disse Rogério Zagallo.

Na segunda-feira (10/7), Cesar Saad afirmou que Leonardo havia admitido ter atirado a garrafa que atingiu Gabriela, mas teria dito que não teve a intenção de feri-la. Horas depois, veio a público a transcrição do depoimento do suspeito. Segundo o documento, Leonardo Felipe Xavier Santiago disse apenas que atirou pedras de gelo contra a torcida do Palmeiras.

Na terça (11), o delegado disse que a confissão de Leonardo teria ocorrido de maneira informal e que ele teria mudado de versão no depoimento, após saber do estado de saúde de Gabriela.

“Ao contrário do que afirmou em diversas entrevistas fornecidas a inúmeros meios de comunicação a autoridade policial César Saad, responsável pelo Departamento de Operações Policiais Estratégicas, nas quais ele assegura que o indiciado teria admitido ser o responsável pelo arremesso da garrafa que veio a matar Gabriella, em verdade, Leonardo, ao ser interrogado pela autoridade policial responsável pela lavratura do auto de prisão em flagrante, negou ter realizado tal conduta, assim se manifestando”, disse o promotor.

Rogério Leão Zagallo diz ainda que o delegado Cesar Saad praticou ato grave ao “tipificar uma falácia”.

“Esse fato praticado por uma autoridade pública é assaz grave e censurável, pois, além de tipificar uma falácia, tem o poder de gerar falsas expectativas nos familiares de Gabriella, fazendo-os acreditar que a pessoa que assassinou o ente querido teria admitido o erro cometido e que sua justa e correta punição não tardará a materializar-se”, afirma o promotor no pedido.

Justiça manda soltar torcedor do Flamengo suspeito de jogar garrafa

Justiça manda soltar torcedor do Flamengo suspeito de jogar garrafa – Foto: reprodução

A Justiça revogou nesta quarta-feira (12) a prisão do torcedor do Flamengo Felipe Xavier Santiago, de 26 anos, preso pela morte da torcedora do Palmeiras Gabriela Anelli, no sábado (8). Santiago foi preso e indiciado pela Polícia Civil de São Paulo por homicídio doloso consumado.

“Ao contrário do noticiado e afirmado pelo delegado de polícia, o autuado não confessou ter arremessado a garrafa contra os torcedores do time adversário. […] Em seu interrogatório negou que tivesse jogado qualquer objeto de vidro contra os torcedores palmeirenses, afirmado que tinha pedras de gelo nas mãos, as quais arremessou em revide a rojões que os palmeirenses teriam jogado contra os flamenguistas”, justificou a Marcela Raia de Sant’Anna, da 5ª Vara do Júri.

Segundo a decisão da Justiça:

  • “A pessoa que arremessou a garrafa contra os torcedores palmeirenses trata-se de um homem que possui barba, sendo, portanto, fisicamente diferente do autuado, além de vestir camisa clara, diversa da camisa do time do Flamengo que o autuado vestia quando foi preso”;
  • Tudo indica, portanto, que a garrafa que vitimou fatalmente Gabriella foi arremessada por outra pessoa que não o autuado, o que enseja a imediata revogação de sua prisão preventiva, com o prosseguimento das investigações para que o verdadeiro autor seja identificado, bem como para que eventual participação do autuado seja apurada”.

Além disso, a juíza determinou que o caso passe a ser investigado pelo DHPP.

“Diante da lamentável, para dizer o mínimo, postura do delegado de polícia, que se mostrou açodado e despreparado para conduzir as investigações, de rigor é a remessa dos autos ao DHPP, órgão especializado e preparado para a condução de investigações desta espécie”, destacou Marcela.

MP pediu liberdade

O Ministério Público de São Paulo havia pedido a liberdade na manhã desta quarta. De acordo com o promotor Rogério Leão Zagallo, as provas não cravam que Santiago jogou a garrafa de vidro que atingiu o pescoço e matou Gabriela.

“Ao que tudo está a indicar, a garrafa que teria gerado a morte de Gabriella não foi lançada por Leonardo, mas por esse torcedor que apresentava o rosto barbado e vestia camisa cinza”, defende Leão, ao pedir a soltura de Santiago.

Em seu pedido à Justiça, o promotor alega que a Delegacia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade) perdeu a credibilidade para seguir à frente do caso e pede que a investigação seja repassada para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), também da Polícia Civil de SP.

“Por outro lado, para além da inexistência da confissão anunciada pelo Delegado de Polícia César Saad, as imagens que aportaram nesta Promotoria de Justiça evidenciam a necessidade de que a investigação prossiga”, afirma Rogério Leão, ao se referir ao atual delegado responsável pela apuração do crime.

Investigação até aqui

Além de Felipe Santiago, a Polícia Civil investiga ao menos dez pessoas que jogaram garrafas na confusão entre torcedores que terminou com a morte de Gabriela. Os investigadores usam uma ferramenta de investigação de reconhecimento facial.

De acordo com o delegado Saad, todas essas imagens estão na unidade de inteligência. Os que forem identificados irão responder individualmente por possíveis crimes cometidos, informou o policial.

Entre os suspeitos está um homem de barba citado pelo promotor Leão em seu pedido de soltura do torcedor do Flamengo (veja abaixo). Ele vestia camiseta branca e foi flagrado em vídeos atirando um objeto contra a torcida do Palmeiras.

Desde o crime, Saad deu três coletivas de imprensa para falar sobre o caso — uma nova declaração está marcada para o começo da tarde desta quarta-feira (12).

Na terça (11), o delegado afirmou que o torcedor do Flamengo indiciado pela morte de Gabriela confessou ter atirado a garrafa e alterou a versão após ter conhecimento da gravidade do caso e do estado de saúde da jovem.

“Um outro ponto que é importante esclarecer: no momento da prisão do autor, ele, ali, ele informalmente, ele confessa que ele estava na briga, que ele estava na confusão e que ele teria arremessado coisas na direção da torcida do Palmeiras. Ele fala: ‘eu arremessei, eu joguei a garrafa'”, afirmou Saad.

Leonardo Felipe Xavier Santiago foi indiciado por homicídio doloso.

“Depois, na delegacia, quando ele estava sendo autuado, ele já sabendo do estado grave da Gabriela, ele no interrogatório diz que arremessou pedras de gelo. O que é importante é que as provas testemunhais validaram, foi importantíssimo, foi fundamental pra decisão da prisão em flagrante dele, e isso foi validado pelo poder judiciário”, disse o delegado.

Defensoria pede liberdade e Justiça nega

No domingo (9), a Defensoria Pública do Estado de São Paulo apresentou um habeas corpus com pedido liminar para que Leonardo deixasse a prisão ao menos provisoriamente. Segundo a defesa, o suspeito não precisa ficar preso de forma cautelar pois não tem antecedente criminal e possui residência fixa.

“Não há elementos concretos a indicar que a permanência do paciente colocará em risco a ordem pública ou econômica, tampouco que criará embaraços à persecução penal ou aplicação da lei penal”, justificou a Defensoria.

No entanto, o Tribunal de Justiça de São Paulo indeferiu o pedido: “A liminar somente se justifica quando há flagrante de ilegalidade, hipótese não demonstrada, de forma inequívoca, até o presente momento, em vista das limitadas informações carreadas aos autos”, escreveu o relator da 10ª Câmara de Direito Criminal nesta segunda-feira (10).

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