Jornal Folha Regional

Universidades federais buscam apoio para evitar cortes de recursos

Universidades federais buscam apoio para evitar cortes de recursos - Foto: reprodução
Universidades federais buscam apoio para evitar cortes de recursos – Foto: reprodução

Os cortes nas verbas destinadas às universidades, centros e institutos federais de ensino superior previstos no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) 2024, aprovado no fim de dezembro pelo Congresso Nacional, motivaram a mobilização de representantes dessas entidades em todo o Brasil, mesmo antes do texto ser sancionado pelo presidente Lula (PT).

Em Minas, das 18 instituições de ensino superior federais reconhecidas pelo Ministério da Educação (MEC), pelo menos 12 pressionam o governo federal e a bancada mineira pela reversão dos cortes. O movimento é capitaneado pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e do Fórum das Instituições Públicas de Ensino Superior do Estado de Minas Gerais (Foripes-MG).

Em números absolutos levantados pela Andifes, o orçamento das universidades federais brasileiras deve recuar dos R$ 6,2 bilhões de 2023 para R$ 5,9 bilhões neste ano. A associação divulgou nota reivindicando a recomposição de, “no mínimo, R$ 2,5 bilhões no orçamento aprovado pelo Congresso para o funcionamento das universidades federais em 2024”.

Para a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), as cifras diminuiriam de R$ 2,34 bilhões para R$ 2,19 bilhões em caso de sanção do orçamento aprovado no Congresso.

A UFMG conta com mais de 40 mil estudantes e é referência em pesquisa – como as que resultaram na criação da SpiN-TEC, primeiro imunizante totalmente produzido em território nacional contra a Covid-19; e a Calixcoca, vacina utilizada no tratamento da dependência química de cocaína e crack.

Segundo a professora Sandra Goulart Almeida, reitora da UFMG, a expectativa inicial de queda no orçamento era de 1% das instituições, mas o índice consolidado variou de 6% – caso da UFMG – a 10%.

“Estamos conversando com toda a bancada mineira, senadores Carlos Viana, Rodrigo Pacheco, inclusive pedimos uma reunião com ele. Estamos acionando todos os parlamentares, que estão muito sensíveis, têm sido muito parceiros e reconhecem a importância das universidades federais para o Estado”, comentou Sandra.

A dirigente da UFMG também avaliou que, se antes, com o corte de 1%, haveria prejuízos na aquisição de insumos básicos como gêneros alimentícios e produtos de limpeza, além de dificuldades no pagamento das contas de água e energia; agora, com o corte chegando a 6%, as atividades-fim da instituição, de ensino, pesquisa e extensão, também podem ser impactadas.

Sandra pontuou que, na prática, os prejuízos serão sentidos nos “investimentos em laboratórios, equipamentos e para manutenção da universidade em termos de instrumentos, além de afetar também toda a parte de custeio daquilo que precisamos para manter a universidade funcionando, tudo isso pode ficar comprometido se não houver recomposição”.

Mesmo diante do cenário complexo, ela acredita em um desfecho positivo, principalmente considerando o papel das universidades federais para o desenvolvimento econômico e social do país.

“Esperamos com muita ansiedade que os cortes sejam revertidos, porque eles realmente causariam um impacto muito grande, por isso também seguimos nesse movimento, de todas as formas possíveis, uma delas por meio da interlocução com o Ministério da Educação, para conseguirmos essa recomposição orçamentária ao longo do ano”, concluiu a professora.

Além da UFMG

Em Minas, além da UFMG, outras instituições de ensino superior federais relataram à reportagem o que pode acontecer a partir dos cortes orçamentários. Para a professora Carla Chamon, diretora-geral do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), o impacto será enorme em várias áreas. Por lá, onde há 18 mil estudantes, o orçamento passou de R$ 58.599.277 em 2023 para uma projeção de R$ 56.315.184 neste ano.

“Essa situação prejudica não só o pagamento de despesas básicas como água, limpeza e segurança, mas impacta também os estudantes, que necessitam da alimentação escolar e das bolsas de assistência, sem falar das várias obras de infraestrutura, como reformas prediais e construção de restaurantes, laboratórios e ginásio poliesportivo, por exemplo, que não foram feitas em razão dos sucessivos cortes ao longo dos últimos anos”, explicou a gestora.

Outro exemplo é o do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas (IFMG), que atende 20.340 estudantes e teve o orçamento reduzido de R$ 69.863.654 para R$ 61.997.918 entre o ano passado e este ano, dificultando o custeio básico do funcionamento, já que o orçamento não acompanha os índices de reajuste aplicados a contratos de limpeza, vigilância e manutenção.

Para o reitor do IFMG, professor Rafael Bastos, o ano de 2024 “será uma grande batalha”. Ele menciona a necessidade de “lutar em prol da recomposição orçamentária, porque ao mesmo tempo em que cresce o número de matrículas, temos perdido muito na capacidade de investir em ensino, pesquisa e extensão, o que atrapalha o desenvolvimento do nosso principal objetivo, que é formar estudantes”.

Na Universidade Federal de Alfenas (Unifal), no Sul do Estado, onde as verbas foram reduzidas de R$ 45.996.327 para R$ 44.936.926, a reitoria destacou que o recebimento de recursos ao longo do ano, com a distribuição de emendas parlamentares, por exemplo, é incerto, já que não há divulgação de valores nem perspectiva de alcançar o montante necessário para o funcionamento da instituição. Quanto ao prazo para um desfecho, a Unifal informou, por meio de nota, que depende “da confirmação e da disponibilidade efetiva de recursos ao longo do exercício”. (O Tempo)

Universidades e IF Sul de MG têm corte de pelo menos R$ 6,7 milhões com bloqueio do governo federal

As universidades e o Instituto Federal do Sul de MG tiveram corte de pelo menos R$ 6,7 milhões com bloqueio de verba na educação, realizado pelo Ministério da Educação (MEC). O corte, conforme as instituições, pode afetar atividades acadêmicas e também administrativas.

Dentre as instituições da região, a Universidade Federal de Lavras (Ufla) foi a que divulgou maior corte de verba devido ao contingenciamento: R$ 3,3 milhões. O IF Sul de Minas revelou que o corte foi de R$ 1,8 milhão, enquanto a Universidade Federal de Alfenas (Unifal) destaca o valor de R$ 1,6 milhão.

O valor do corte no Sul de Minas pode ser maior do que os R$ 6,7 milhões somados de Ufla, Unifal e IF Sul de Minas. Isso porque, a Universidade Federal de Itajubá (Unifei) divulgou nota falando sobre o corte, mas não informou o valor que não será repassado para a instituição.

Universidade Federal de Lavras (Ufla)

Conforme nota divulgada pela Ufla, o novo contingenciamento causa um corte de cerca de R$ 3,3 milhões para a instituição e “reflete mais uma vez no não pagamento de despesas já contratadas”. A universidade revelou que o segundo semestre letivo pode não retornar na data prevista e também anunciou áreas que podem sofrer alterações no campus.

“Isso é um grande problema para o gestor, uma vez que o Governo Federal não cumpre com os acordos de orçamento fica impossível cumprir com o planejamento da Universidade”, afirmou o reitor da Ufla, professor João Chrysostomo de Resende Júnior.

A universidade revelou as áreas que podem sofrer alterações ainda este mês devido ao contingenciamento. São elas:

  • Alterações nos valores das refeições do Restaurante Universitário (RU) ou mesmo paralisação de suas atividades;
  • Corte do transporte interno (Mamute); inviabilização da continuidade da moradia estudantil;
  • Não pagamento de bolsas de ensino, pesquisa e extensão;
  • Cortes no atendimento dos serviços de saúde, mais cortes no número de terceirizados, impactando diretamente nas atividades acadêmicas e administrativas;
  • Corte das viagens técnicas das aulas práticas,
  • Entre outras funções de suma importância para o funcionamento das atividades da universidade.

O segundo semestre de 2022 da Ufla está previsto para começar no dia 24 de outubro. Contudo, há a possibilidade do não retorno dos estudantes para essa data, diante do bloqueio apresentado.

“É provável que não consigamos começar o segundo semestre letivo em função do contingenciamento. Estamos indignados. Não é possível que a Universidade Pública Brasileira seja tratada dessa forma. Além da formação de novos profissionais para o mercado de trabalho, as universidades são responsáveis por produzir 95% de conhecimento nesse País, com foco na pesquisa e inovação. Isso é inadmissível”, ressalta o reitor.

Em julho, a universidade disse que já havia sofrido um corte da verba do governo federal pelo mesmo motivo. O valor, na época, foi de R$ 4,6 milhões.

Universidade Federal de Alfenas (Unifal)

O contingenciamento, segundo a Unifal, gerou bloqueio de 5,8% do orçamento da instituição, o que representa mais de R$ 1,6 milhão em recursos para pagamento de bolsas, para assistência estudantil, para empregos diretos, para compra de insumos e para manutenção diária da Universidade.

O reitor da Unifal, Sandro Amadeu Cerveira, destacou que a situação que já era extremamente preocupante, pode ocasionar uma “tragédia” para educação superior brasileira.

“Todo esforço que foi feito pela Instituição no sentido de racionalizar, organizar e minimizar os gastos para que a Universidade pudesse ter um mínimo de condições de funcionamento pleno, agora são jogados por água abaixo com esta notícia”, alertou o reitor.

Cerveira revelou, ainda, que esse novo bloqueio orçamentário foi recebido com surpresa.

“Especialmente em virtude da divulgação de informações de que há recuperação da economia, portanto, seria desnecessário esta ação que prejudica e pode até inviabilizar a manutenção dos serviços oferecidos pela Universidade”, completa.

O impacto de cortes e bloqueios nos recursos da instituição feitos pelo governo chega a quase R$ 5 milhões em 2022, de acordo com a Unifal.

Instituto Federal do Sul de MG

O IF Sul de Minas divulgou que o bloqueio orçamentário gerou um corte de mais de R$ 1,8 milhão à instituição. Conforme o Instituto Federal, somado ao corte realizado pelo governo federal no primeiro semestre, totaliza mais de R$ 5,7 milhões.

“Com o novo bloqueio, é inevitável o comprometimento, de forma determinante, das ações que tanto sustentam a formação de excelência de nosso estudante, como atividades de pesquisa, extensão, inovação, infraestrutura e manutenção de nossas unidades”, escreveu a instituição em nota.

“Como sempre, as ações e programas voltadas à permanência e êxito dos estudantes são colocadas como prioridades. Nosso compromisso institucional, em respeito à educação, nos guia para assegurar e manter as atividades de ensino, ainda que limitadas pelas questões acima apresentadas”, completou.

Instituto Federal do Sul de Minas, campus Machado (MG) — Foto: IF Sul de Minas
Instituto Federal do Sul de Minas, campus Machado (MG) — Foto: IF Sul de Minas

De acordo com a instituição, a situação impõe aos dirigentes do IF Sul de Minas a adoção de medidas extraordinárias.

“Recorreremos ao governo federal para que revise sua postura de bloqueio orçamentário do Ministério da Educação, salvaguardando a saúde orçamentária de uma instituição que tanto tem contribuído para a transformação de vidas e para a promoção do desenvolvimento sustentável do Sul de Minas Gerais e do Brasil”, escreveu.

A Universidade Federal de Itajubá (Unifei)

Em nota, a Unifei informou que o bloqueio de verba já foi analisado pelos setores responsáveis pelo planejamento e orçamento da universidade. A instituição não informou o valor que não chegará aos cofres da unidade, mas destacou que, neste momento, nenhuma atividade correr o risco de ser suspensa ou afetada.

“Destacamos que os recursos destinados ao pagamento de bolsas e auxílios, em especial à assistência estudantil e às atividades fim, que são o ensino, a pesquisa e a extensão, serão preservados. Também não haverá efeitos sobre pagamento tanto de servidores quanto de terceirizados”, escreveu na nota.

Unifei, em Itajubá — Foto: Prefeitura de Itajubá
Unifei, em Itajubá — Foto: Prefeitura de Itajubá

“A informação que recebemos diretamente do ministro da Educação indica que este bloqueio é temporário e que os recursos devem ser liberados em dezembro, não havendo, portanto, motivos para, precipitadamente, realizar cortes nas atividades programadas”, completou.

O que diz o MEC?

Em nota, o Ministério da Educação informou que se adequou ao bloqueio, em conformidade com o decreto do governo. A pasta disse ainda que, em dezembro, os valores serão desbloqueados.

“O MEC realizou os estornos necessários nos limites de modo a atender ao Decreto, que corresponde a 5,8% das despesas discricionárias de cada unidade. Segundo informações do Ministério da Economia, consoante ao que também determina o próprio decreto, informamos que os limites serão restabelecidos em dezembro”, disse o Ministério da Educação.

Receber notificações de Jornal Folha Regional Sim Não
Jornal Folha Regional
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.