
Uma pesquisa divulgada no início do mês de junho, diz que cerca de 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil. É quase o dobro do registrado em 2020.
O dado faz parte do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, feito pela Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional). Eis a íntegra.
Atualmente, mais da metade (58,7%) da população brasileira vive com insegurança alimentar, segundo o estudo.
Depois de 2 anos de pandemia e com o início da guerra na Europa, da Rússia contra a Ucrânia, a recuperação da economia ficou mais lenta. O eleitorado mais pobre (46% dos eleitores têm renda familiar de até 2 salários mínimos) é o mais afetado. Os dados sobre segurança alimentar assustam o governo de Jair Bolsonaro, que tem tentado encontrar formas de mitigar o problema.
O maior desafio em algumas regiões é prover famílias mais pobres condições para adquirir bens básicos, como gás de cozinha. Muitas comunidades carentes hoje fazem comida cozinhando em fogões a lenha improvisados.
De acordo com o Penssan, os principais fatores responsáveis pelo crescimento do número de brasileiros que sofre com insegurança alimentar, em diferentes níveis, são “a continuidade do desmonte de políticas públicas, a piora na crise econômica, o aumento das desigualdades sociais e o segundo ano da pandemia da covid-19”.
“O país regrediu para um patamar equivalente ao da década de 1990”, afirma o relatório. O 1º inquérito, divulgado em abril do ano passado, estimava que cerca de 19 milhões não tinham o que comer em 2020. Em 2018, eram 10,3 milhões.
Os resultados da pesquisa divulgada nesta 4ª mostram que 41,3% dos domicílios consultados estão em situação de segurança alimentar, enquanto em 28% havia incerteza quanto ao acesso aos alimentos e à qualidade da alimentação, considerada insegurança alimentar leve.
A restrição quantitativa aos alimentos foi registrada em 30,7% dos domicílios, sendo que em 15,5% deles as pessoas convivem com a fome, classificada como insegurança alimentar grave.
Em termos populacionais, de acordo com o levantamento, são 125,2 milhões de brasileiros em domicílios com insegurança alimentar e mais de 33 milhões na forma mais grave.
A Rede Penssan utilizou a Ebia (Escala Brasileira de Insegurança Alimentar) –mesma utilizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)– para fazer a classificação.
Nela, é considerada segurança alimentar o acesso pleno e regular a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais. Já a insegurança alimentar é dividida em 3 níveis:
- leve – quando há preocupação ou incerteza quanto o acesso aos alimentos no futuro, além de queda na qualidade adequada dos alimentos para não comprometer a quantidade;
- moderada – quando há redução quantitativa no consumo de alimentos entre os adultos e/ou ruptura nos padrões de alimentação;
- grave – quando há ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre todos os moradores do domicílio, incluindo crianças. Nesse nível de insegurança alimentar, as pessoas convivem com a fome.
Ao todo, os pesquisadores fizeram entrevistas presenciais com adultos em 12.745 domicílios brasileiros, nos 26 Estados e no Distrito Federal, nas zonas rural e urbana. A coleta de dados foi realizada de novembro de 2021 a abril de 2022.