
Um anúncio recente da Eletrobrás gerou indignação e preocupação entre eletricitários brasileiros. A direção da empresa comunicou ao mercado que iniciou estudos para incorporar sua maior subsidiária, Furnas, como parte de um “plano para simplificar estrutura societária e governança, em meio aos trabalhos de reestruturação da empresa após a privatização”. Essa medida tem gerado forte oposição, com sindicatos e eletricitários de todo o país unindo forças para protestar contra o que consideram um ataque à história e à memória do Brasil.
Os eletricitários, representados pelo Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE), denunciaram, em boletim publicado na última segunda-feira (18), essa decisão como “o apocalipse da história que Furnas construiu” e “o fim da memória de um dos maiores casos de sucesso da história do Brasil”. Eles alegam que os interesses puramente financeiros dos privatistas estão prevalecendo sobre o valor histórico e cultural de Furnas.
Furnas foi criada em 1957 por um decreto do então presidente Juscelino Kubitschek para resolver a crise energética que ameaçava o abastecimento das principais cidades do país, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. O projeto envolveu a construção da primeira hidrelétrica de grande porte do Brasil, a Usina de Furnas, com uma capacidade de 1.216 MW. No entanto, essa conquista veio com um alto custo para as comunidades locais, com desapropriações, perda de terras férteis, gado e plantações, e o deslocamento de famílias inteiras.
Ao longo dos anos, a relação com o Lago de Furnas mudou, e hoje ele é visto como um orgulho para os mineiros, com múltiplos usos, incluindo turismo, agricultura, navegação, psicultura, irrigação e outros. No entanto, os eletricitários alertam que esses usos múltiplos da água estão ameaçados, especialmente devido à possível modificação da Usina de Furnas para Produtor Independente de Energia.
Com o fim iminente de Furnas pela direção da Eletrobrás, a chamada “Cota 762” pode estar em perigo, assim como os contratos de royalties da água dos municípios. Isso não só representaria um grande prejuízo para o povo mineiro, mas também um golpe na memória afetiva de figuras históricas como Juscelino Kubitschek, John Cotrim e Itamar Franco.
Furnas é a maior subsidiária da Eletrobrás, com presença em 15 estados e no Distrito Federal, e capacidade instalada de geração de mais de 18 GW a partir de fontes hidrelétricas, gás natural, eólica e solar. A empresa também se destacou na produção de hidrogênio verde, resultado de projetos de P&D em curso há dois anos na hidrelétrica de Itumbiara (MG/GO).
Os eletricitários enfatizam que o fim de Furnas representa um revisionismo histórico de Minas Gerais e do Brasil, e que a luta contra essa medida está apenas começando. Eles já iniciaram contatos com parlamentares, movimentos populares, prefeitos e advogados especializados em regulação e direito societário e empresarial. O Coletivo Nacional dos Eletricitários promete tomar as ruas e as redes sociais em defesa de Furnas, de Minas e do Brasil, afirmando que “só a luta salva”.