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Elas no café: liderança feminina ganha força na cafeicultura mineira

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Como encontros de produtoras rurais tem fortalecido lideranças femininas no Agro. Em Guaxupé, mais de 600 mulheres se reuniram para debater o tema

Elas no café: liderança feminina ganha força na cafeicultura mineira - Foto: divulgação
Elas no café: liderança feminina ganha força na cafeicultura mineira – Foto: divulgação

A cafeicultura brasileira está sendo protagonista de uma transformação importante: o fortalecimento da presença feminina na gestão e nas decisões estratégicas. Em regiões tradicionalmente reconhecidas pela produção de café, as mulheres não apenas contribuem com a lida diária, mas assumem papéis cada vez mais centrais na condução das propriedades e no futuro do setor.

Quando falamos de agronegócio em geral, ou seja, todas as atividades relacionadas à agricultura, pecuária e agroindústria no país, vemos um cenário de crescente protagonismo feminino. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que as mulheres administram cerca de 30 milhões de hectares no Brasil – o equivalente a 8,5% da área total ocupada por sítios e fazendas. Além disso, elas estão à frente de quase 1 milhão de estabelecimentos rurais (exatamente 947 mil, segundo o IBGE), o que representa aproximadamente 19% do total nacional.

Já quando olhamos especificamente para a cafeicultura, o Censo Agropecuário do IBGE de 2017 aponta que as mulheres estão à frente de mais de 40 mil estabelecimentos agrícolas dedicados ao café, representando 13,2% do total de propriedades cafeeiras do país.

Em Minas Gerais, esse protagonismo feminino é mais evidente na cafeicultura. Embora não haja um número oficial específico para a cafeicultura no estado, análises do IBGE, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) mostram que, dos 594 mil hectares cultivados por mulheres no Sudeste, 65,7% estão localizados em Minas Gerais. Esses números consolidam o estado como referência nacional no protagonismo feminino na cafeicultura.

Assim, enquanto o agronegócio brasileiro avança com a liderança das mulheres em diferentes cadeias produtivas, a cafeicultura se destaca como um dos setores em que essa presença feminina é especialmente forte e transformadora.

A valorização e o fortalecimento das mulheres no agronegócio mineiro vêm sendo impulsionados por uma série de eventos realizados em todo o estado, que estimulam capacitação, proporcionam networking e o reconhecimento das produtoras rurais, especialmente das cafeicultoras de Minas Gerais.

No Sudoeste de Minas, um exemplo marcante é o Encontro de Produtoras Rurais de Guaxupé, São Pedro da União e região, que, pelo terceiro ano consecutivo, tem sido um sucesso de público e um exemplo inspirador de valorização da mulher no campo. A edição de 2025, realizada no último dia 26 de abril, no Sítio Jaboti, reuniu mais de 600 mulheres do campo, consolidando o evento como uma verdadeira rede de apoio, troca de experiências e fortalecimento da liderança feminina no agro.

Elas no café: liderança feminina ganha força na cafeicultura mineira - Foto: divulgação
Elas no café: liderança feminina ganha força na cafeicultura mineira – Foto: divulgação

A programação diversificada incluiu palestras sobre liderança, gestão rural, sustentabilidade e inovações no agronegócio, além de estandes com produtos e serviços voltados ao público feminino rural, proporcionando um ambiente de aprendizado e acolhimento.

Realizado pelo Sindicato dos Produtores Rurais de Guaxupé, com apoio do Sistema Faemg Senar, Emater, Cooxupé, prefeituras de Guaxupé e São Pedro da União, além de instituições financeiras e entidades ligadas ao agronegócio, o evento contou com a presença de diversas de lideranças do agro e autoridades políticas: o prefeito de Guaxupé, Jarbas Corrêa Filho, e do prefeito de São Pedro da União, Ronaldo Tijolo; a deputada federal Greyce Elias; e dos deputados estaduais Antônio Carlos Arantes, Carol Caran e Cássio Soares.

A Agente de Desenvolvimento Rural Maria José Cyrino, responsável pela organização do evento e mobilização das produtoras, destacou o compromisso em dar visibilidade e suporte às mulheres do agro: “Nosso objetivo é sempre mostra o valor das produtoras rurais, mostrando a elas que não são invisíveis e suas funções dentro da propriedade fazem toda diferença”.

A proprietária do Sítio Jaboti, Alice Fukumoto Queiroz, que é cafeicultora, ressaltou: “Nós já estamos no terceiro encontro das produtoras rurais, e eu acho esse encontro muito importante para valorizar as mulheres do campo. Todas são produtoras, todas ajudam na colheita, no terreirão. Temos que valorizar as mulheres.”

O presidente do Sindicato, Mário Guilherme Perocco Ribeiro do Valle, o Maé, também reforçou a importância de criar espaços de valorização feminina: “O papel do sindicato rural é promover essa experiência, é fazer esse congraçamento, é trazê-las para perto da gente, é mostrar para as mulheres a sua importância. E isso é um trabalho que nós, os sindicatos, junto com a Faemg e o Senar, já estamos fazendo há muito tempo. É importantíssimo nesse mundo de hoje.”

A capacitação como alavanca para o avanço das mulheres no agro

Elas no café: liderança feminina ganha força na cafeicultura mineira - Foto: divulgação
Elas no café: liderança feminina ganha força na cafeicultura mineira – Foto: divulgação

Embora o protagonismo feminino no campo não seja mais novidade, a capacitação continua sendo a chave para garantir que as mulheres conquistem visibilidade, autonomia e segurança em suas atividades. A engenheira agrônoma Silvana Novaes, do Sistema Faemg Senar, sublinha a importância da formação contínua: “Escutamos muito que o lugar da mulher é onde ela quiser, mas ela só vai conseguir estar onde ela quiser se ela se capacitar para isso.”

Por meio de programas como o Faemg Mulher, o Sistema Faemg Senar tem criado oportunidades de qualificação e fortalecido redes de apoio para as mulheres do agro. Segundo Silvana, a força do programa está na conexão entre as participantes e nas possibilidades de desenvolvimento com suporte institucional do Sistema Faemg Senar, que, através dos Sindicatos dos Produtores Rurais, oferece gratuitamente e durante todo o ano, cursos importantes para capacitar produtoras rurais nas mais diversas cadeias produtivas do agro, entre elas, a cafeicultura: “É uma rede viva e crescente de lideranças para que o agro se torne cada vez mais forte e competitivo.”

A segurança das mulheres rurais foi tema de destaque com a presença da delegada Mireli Léa Mafra, da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Guaxupé, que ressaltou o compromisso da Polícia Civil: “A Polícia Civil, a Delegacia Rural e a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher estão juntas com a mulher do campo, para que haja segurança em todos os ambientes. A Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher cuida da mulher no âmbito doméstico e familiar e a Delegacia Rural dos crimes relacionados a furtos e roubos na zona rural. É preciso fortalecer a mulher, para que ela possa trabalhar na terra e com segurança em todos os ambientes. É muito importante que a polícia e as forças de segurança estejam presentes nesses eventos”

A presença da mulher no agro é um caminho sem volta. Com capacitação, valorização e redes de apoio, elas ocupam cada vez mais espaços no campo. O lugar da mulher é onde ela quiser – e cada vez mais, elas sabem onde devem estar: na liderança da cafeicultura, fortes, competentes e cheias de futuro.

Depoimentos das participantes do 3º Encontro das Mulheres da Zona Rural de Guaxupé, São Pedro da União e Região:

Durante o 3º Encontro de Produtoras Rurais de Guaxupé, São Pedro da União e região, participantes de diferentes realidades compartilharam experiências, ideias e perspectivas:

Letícia Helena de Oliveira Faria – São Pedro da União: 

“Eu sou produtora rural e acho muito importante. Deveria ter mais vezes em outra cidade também, porque é uma forma das mulheres aparecerem mais no negócio. A mulher sempre está presente, mas sempre está esquecida também. Então eu espero que isso aí seja exemplo para outra cidade, fazer um evento assim, mostrando a importância da mulher na agricultura.”

Flávia Ananias – Guaxupé:

“Esse evento é maravilhoso para nós, mulheres. Mesmo não sendo agricultora, me sinto acolhida e inspirada. Já é o terceiro ano que participo e espero continuar vindo sempre. Os temas abordados são incríveis, nos fazem refletir e aprender. Quem sabe, no futuro, eu também não me torne agricultora.”

Regina dos Reis Salles – São Pedro da União:

“É muito bom estar com o pessoal, escutar o que falam. Minha filha trabalha na roça, então entende um pouco dessas coisas que foram faladas. Eu acho muito bom.”

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